Assombração da Cachoeira

Assombração da Cachoeira

Rio Grande, divisa de estado, São Paulo – Minas Gerais, Cachoeira de Marimbondo, Triangulo Mineiro, município de Fronteira, ano 1969, meu pai largou a vida de Peão de Boiadeiro, minha mãe colocou o cabresto nele, virou pescador profissional, o Rio Grande nessa época, como tantos outros rios do Brasil, tinha uma quantidade imensa de peixes, alguns monstruosos, nessa época morávamos em uma ilha acima da cachoeira eu posso dizer que sou metade paulista, metade mineiro pois nasci nessa ilha.

As estórias do rio são incontáveis, mas hoje vou contar uma que meu pai sempre jurou de pé junto que era verdade, ele nos contava sobre a assombração da cachoeira, uma luz verde que surgia do nada no meio das águas da cachoeira e que espantava todos os pescadores da região, porém, dizia meu pai, que as turbulências causadas pela imensa queda d’água, fazia com que os peixes grandes escolhessem justamente esse trecho do rio para caçar, e em uma época que a pesca estava um pouco escassa, meu pai decidiu arriscar.

Saiu de madrugada, subiu o rio com sua “voadeira”, pescava sozinho, peixes grandes pesavam mais de 60kg e era preciso técnica e coragem para sair sozinho para pescar, chegou próximo, armou sua “tráia” de pesca, jogou o anzol e esperou. A noite estava clara, lua cheia, ele ficou mais confiante, o barulho da água caindo era ensurdecedor, sentou e num instante, zummmmmmmm, uma fisgada violenta quase o derruba do barco, ele se ajeitou e a luta começou, o “bruto” puxava o barco como um brinquedo, e puxava em direção a cachoeira, meu pai não ia desistir, queria aquele peixe, as águas turbulentas balançava o barco e não demorou muito meu pai decidiu ir para a margem e desembarcar, lutou e trouxe um pintado enorme para a margem, foi aí que aconteceu, a luz verde surgiu do nada, de repente, e iluminou de verde a neblina da água, meu pai não tinha como fugir e levar o peixe, o barco “rodou” e estava na outra margem, o único caminho era por trás da cachoeira, tomou a decisão mais difícil, enfrentar a assombração.

Caminhou pela margem do rio, cantando uma daquelas cantigas que cantam os foliões na Festa de Santo Reis, rezou uma Ave Maria e pediu que ele pudesse levar o peixe, pois tinha oito bocas pra alimentar, havia uma passagem que ia por trás da cachoeira, meu pai caminhou rezando e quando viu a luz de perto simplesmente desabou...

Desabou a rir, era um bando de vagalumes, piscando e piscando, toda aquela luz refletida no spray da água formava uma luz dez vezes maior que a real, meu pai pegou o peixe, colocou no barco e se tornou um dos maiores pescadores do rio, pois era o único maluco que não tinha medo da assombração da cachoeira.

Ele jura que foi verdade...

Adriano de Oliveira e Jeci de Oliveira ( meu pai )
Enviado por Adriano de Oliveira em 03/03/2013
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