Conto do Morto de Susto
Conto do morto de susto
Fronteira, Minas Gerais, lá pelos anos de 65, cidade pequena do interior, uma rua calçada, uma padaria, uma “pharmacia” uma estátua de um homem nu, um cemitério.
No dia do ocorrido estava meu pai, contador desse causo, em um bar, quando um estranho mal encarado entrou batendo o pó da viagem, aquelas bandas eram terras de boiadeiros, meu pai era um, e comitivas iam e vinham, o transporte de gado foi feito assim por muito tempo, antes dos caminhões e do asfalto tudo era pó ou lama, meu pai sempre foi um homem pequeno, nunca passou de 1,60, era bom com cavalos e bois, tomava sua cachaça quando o estranho perguntou:
Tem homem de coragem nessa cidade?
Meu pai matuto, ficou em silêncio e apenas olhou o homem de canto de olho.
O forasteiro continuou
Ouvi dizer que aqui é terra de cabra macho, mas agora não vejo nenhum e acho mesmo que os bois da minha comitiva são mais corajosos que vocês.
Meu pai então disse:
“Vos mecê tá percurando homem ou boi?”
O estranho, olhou e não acreditou, que diabos aquela metade de homem estava fazendo? Não valia um tapa se quer, estaria armado ou coisa assim?
Procuro homem e se fosse um boi você seria apenas um pequeno garrote!!
O bar todo começou a rir do pobre capiau que disse:
“O estranho deve-di-sê um homem de muita coragem mêmo...”
Sou e topo qualquer parada, domo boi e toco boiada...
“Mais nessas bandas home de coragem enfrenta memo é o fantasma do cemitério, isso sim é ser macho...”
O forasteiro então esbravejou:
Não tenho medo de vivo e nem de morto, corto na faca, e enterro de novo.
“Intonse nem me atrevo a apostar com vos mece pois tenho certeza que vou perder...”
Aposte e topo. Disse o forasteiro
“Si vos mece quisé aposta seu chapéu, chapéu panamá um sonho de todo boiadeiro, eu desafio a entrar no cemitério e ir até o tumulo do fantasma.”
Eu aceito e digo mais, pra provar que estive lá vou pregar um prego no tumulo do dito cujo.
Aposta feita, começava a chover, todos saíram do bar em direção ao cemitério, já passava das 23:00 e até o local muitos foram ficando em suas casas, chegando lá meu pai, o estranho e mais um bêbado estavam diante do portão, meu pai disse:
“Esse chapéu já é meu, vou premeiro me dá esse martelo.”
Entrou correndo bateu o prego e voltou feito um raio, não era coragem que o movia, mas o desejo pelo chapéu panamá do estranho. Chegando ao portão passou o martelo ao forasteiro e falou, agora pode ir.
Ficou lá fora na chuva junto com o bêbado, esperando o estranho voltar a chuva apertava e a noite sem lua estava escura, passado algum tempo o estranho não voltou, meu pai pensou, covarde deve ter saído pela lateral e ido embora, e perdi meu chapéu...
Foi embora aborrecido e deixou o bêbado para trás.
Pela manhã quando chegou à praça encontrou uma multidão em frente ao cemitério e foi ver o que aconteceu.
O fantasma do cemitério matou o forasteiro, ele tá caído ao lado do tumulo, gritou um caipira com cigarro de palha no canto da boca.
Meu pai entrou e sentiu um arrepio na espinha ao constatar que era verdade, o estranho morto ao lado do tumulo mal assombrado. Como um ato de caridade foi tirar o corpo daquele local.
Quando tentou levantar o corpo para tira-lo de lá viu que ele estava preso de alguma forma...Foi ver o que era...
Pobre forasteiro, na pressa para sair de lá pregou a própria capa no tumulo, certamente ao tentar ir embora foi “puxado” pelo fantasma e caiu morto, ataque do coração, disse depois o doutor que fez o atestado de óbito.
Pelo menos foi isso que pareceu, ou então quem bateu o prego foi o fantasma...pra não levantar suspeita...
E o chapéu panamá sumiu...