A GRANJA DO... Cap. VI
Primeiro o amigo do mercado, agora os galos primitivos. Tragado ao centro do problema garnisé o inseguro granjeiro sentiu que a situação estava a exigir uma tomada de posição. Assim, ele pensou, pensou, estando os dois reclamantes ali, a esperar solução.
Primeiro o amigo do mercado, agora os galos primitivos. Tragado ao centro do problema garnisé o inseguro granjeiro sentiu que a situação estava a exigir uma tomada de posição. Assim, ele pensou, pensou, estando os dois reclamantes ali, a esperar solução.
Após deliberar consigo por bons minutos, repassou mentalmente as recomendações do falecido pai e optou por uma solução branda. Afinal ela felicitaria a todos, ponderou.
--- E qual é? Perguntaram unânimes os dois galos impacientes.
--- Uma consulta às galinhas! Respondeu exultante.
--- Consultar as galinhas?!!! Admiraram temerosos os dois.
--- Sim!... Por que não?
--- Mas...
--- Não são elas a outra parte?... Então!... Ouvidas, teremos o contencioso resolvido, certo?
--- Sei não!... Ouvir as galinhas? Afastou-se um deles claramente desconfiado e aborrecido.
--- Ficamos assim... Falarei com elas e voltaremos a falar... Até mais ver, rapazes! Dispensou os reclamantes.
Porta afora, ouviu-se o comentário:
--- Meu amigo!... Onde você arrumou aquele palavreado difícil, moço?
--- Execrável, escória...é isso?
--- E não é?!!!
--- Ora, ora! É o fato de ler um tal de Daukins*, meu velho! Pavoneou-se.
Os dias se passaram e nada de novo mudara na propriedade, a rotina seguia normal. O amigo fora embora e as exigências do mercado esquecidas; a promessa aos galos da mesma forma foi às calendas, avivando por sua vez, além do descontentamento, a indiferença com suas reclamações.
Enquanto isso, o meia foda continuava a nadar de braçadas.
Finda a primeira quinzena após a reclamação dos galos os ânimos se exaltaram. O galinho, após mais uma de suas incursões diárias pelo harém do galinheiro, subia o trieiro que dava para a área livre da propriedade.
Descontraido, feliz cocoricava e arriscava as asas num divertido exercício de alongamento preso ainda à sua performance junto à carijó das pintas. Eis que não senão quando, à sua frente, os dois ressentidos irados. Nesse ponto, babavam de ódio pelo bico.
--- E aí, mequetrefe emplumado?... viadinho de penas, dando um passeio, é? O outro de asas na cintura acenava com a cabeça aprovando a provocação.
--- Calma, pessoal!... O que é isso? Surpreso com o ataque nosso herói portou-se na defensiva reconhecendo o furor nos olhos dos dois oponentes. --- ...Nossa convivência tem sido pacífica, então o que acontece?
--- Pois vamos te esclarecer, seu bostinha!
A primeira esporada alcançou-o no peito não arrancando nenhuma de suas penas; mesma sorte não teve na certeira unhada que lhe derriçou pelas costas levando um punhado delas. Os golpes a seguir quase o desfalecera, mas, o que veio a desmaiá-lo realmente deu-se assim: os dois brutamontes o agarraram, levantaram-no pelas asas e aplicaram-no um tremendo telefone levando-o a ver todas as estrelas da Via-Láctea! Veio a pique o pobre garnisé que se espraiou bastante depenado e coberto por feios hematomas.
--- We’re vindicated! Disseram satisfeitos os dois agressores.
* Richard Dawkins, biólogo inglês famoso por suas posições polêmicas.
--- E qual é? Perguntaram unânimes os dois galos impacientes.
--- Uma consulta às galinhas! Respondeu exultante.
--- Consultar as galinhas?!!! Admiraram temerosos os dois.
--- Sim!... Por que não?
--- Mas...
--- Não são elas a outra parte?... Então!... Ouvidas, teremos o contencioso resolvido, certo?
--- Sei não!... Ouvir as galinhas? Afastou-se um deles claramente desconfiado e aborrecido.
--- Ficamos assim... Falarei com elas e voltaremos a falar... Até mais ver, rapazes! Dispensou os reclamantes.
Porta afora, ouviu-se o comentário:
--- Meu amigo!... Onde você arrumou aquele palavreado difícil, moço?
--- Execrável, escória...é isso?
--- E não é?!!!
--- Ora, ora! É o fato de ler um tal de Daukins*, meu velho! Pavoneou-se.
Os dias se passaram e nada de novo mudara na propriedade, a rotina seguia normal. O amigo fora embora e as exigências do mercado esquecidas; a promessa aos galos da mesma forma foi às calendas, avivando por sua vez, além do descontentamento, a indiferença com suas reclamações.
Enquanto isso, o meia foda continuava a nadar de braçadas.
Finda a primeira quinzena após a reclamação dos galos os ânimos se exaltaram. O galinho, após mais uma de suas incursões diárias pelo harém do galinheiro, subia o trieiro que dava para a área livre da propriedade.
Descontraido, feliz cocoricava e arriscava as asas num divertido exercício de alongamento preso ainda à sua performance junto à carijó das pintas. Eis que não senão quando, à sua frente, os dois ressentidos irados. Nesse ponto, babavam de ódio pelo bico.
--- E aí, mequetrefe emplumado?... viadinho de penas, dando um passeio, é? O outro de asas na cintura acenava com a cabeça aprovando a provocação.
--- Calma, pessoal!... O que é isso? Surpreso com o ataque nosso herói portou-se na defensiva reconhecendo o furor nos olhos dos dois oponentes. --- ...Nossa convivência tem sido pacífica, então o que acontece?
--- Pois vamos te esclarecer, seu bostinha!
A primeira esporada alcançou-o no peito não arrancando nenhuma de suas penas; mesma sorte não teve na certeira unhada que lhe derriçou pelas costas levando um punhado delas. Os golpes a seguir quase o desfalecera, mas, o que veio a desmaiá-lo realmente deu-se assim: os dois brutamontes o agarraram, levantaram-no pelas asas e aplicaram-no um tremendo telefone levando-o a ver todas as estrelas da Via-Láctea! Veio a pique o pobre garnisé que se espraiou bastante depenado e coberto por feios hematomas.
--- We’re vindicated! Disseram satisfeitos os dois agressores.
* Richard Dawkins, biólogo inglês famoso por suas posições polêmicas.