QUESTÃO DE TAMANHO

Todo dia ele olhava no espelho. Olhava e media. Queria ter certeza que estava crescendo. Por isso, colocara um espelho grande na parede do quarto e uma fita métrica embaixo do travesseiro. Anotava religiosamente os resultados obtidos no papel que afixara na parede ao lado do espelho. Estava satisfeito, pois notava que ia ficando cada vez maior, exatamente do jeito que ele queria.

A mulher de início estranhou um pouco, até por que ele já tinha passado da adolescência. Mas ele logo tratou de tranqüilizá-la, afirmando que só queria ter o maior entre os amigos. E assim, sempre que ela saía de casa, ele se entregava àquele exercício diário, fazendo massagens e usando técnicas aprendidas com os amigos. Às vezes essa ginástica toda chegava a doer-lhe na alma. Mas não desistia. A mulher ainda teria muito orgulho dele.

Certa tarde, ela chegou mais cedo em casa e o encontrou diante do espelho alongando e medindo, medindo e alongando. Olhando-o assustada, indagou:

─ Mas, Cornélio, o que estás a fazer, homem de Deus?

Sem parar o que estava fazendo, ele retrucou alegremente:

─ Não vês, Maria, que cá estou medindo o tamanho dos chifres que tu me pões já há três anos?!