O CRIME E A PUNIÇÃO
Quando vejo nos meios de comunicação notícias sobre crimes misteriosos em que não se encontra o corpo ou não há motivos evidentes para o acontecido, fico muito preocupado. Lembro-me de uma frase não sei de quem: "'E preferível deixar 100 assassinos soltos a se manter em cárcere um inocente". Certos órgãos de imprensa patrocinam o linchamento psicológico dos suspeitos. A perícia acusa. Não há dúvida de que o assassino seja aquele. Mas, como todo Universo do Conhecimento é passível de falhas, e se a perícia errar? Dependendo de como o inquérito é conduzido nem a confissão é verdade absoluta.
Esse comentário inicial me faz lembrar o Caso dos Irmãos Naves, fato ocorrido durante o Estado Novo, no Triângulo Mineiro, ou mais precisamente em Araguari.
Conta-se que Benedito Pereira e seus primos Sebastião e Joaquim, formavam uma sociedade na compra de cereais. Enquanto os negócios iam bem a parceria crescia a todo o vapor. Mas os reveses começaram a ficar frequente, assim a confiança bem como a paz deixaram de existir no grupo. Certa feita, como as dívidas eram muitas, Benedito, sem consultar os demais sócios, vendeu da noite pro dia todo o estoque. Fazendo as devidas correções o arrecadado seria de aproximadamente 300 mil reais. Pra maior surpresa de Sebastião e Joaquim, Benedito desapareceu misteriosamente. Imediatamente os irmãos foram à polícia. Era delegado um tenente, apelidado "Chico Vieira". Diante da falta absoluta de testemunhas, e conhecedor das razões do caso, o delegado passou a suspeitar dos denunciantes. Não teriam, os irmãos Naves assassinado Benedito, pra ficar com a quantia arrecadada com a venda? Apoiado nos métodos da Ditadura, e na sua deformada personalidade, partiu para obter dos novos suspeitos, uma confissão sumária. Depois de uma série de "Depoimentos", que me recuso a narrar, pois não quero ser mensageiro de figuras bizarras que habitam entre os seres humanos,a confissão foi conseguida. Sem o aparecimento do corpo da vítima. Depois de encontros e desencontros nos meios judiciários, os irmãos foram condenados a 16 anos de prisão. Cumpridos 8 ANOS de cárcere, foram colocados em liberdade "por força da lei".
Quando tudo tinha caído no esquecimento do público, eis que, num município vizinho, Nova Ponte, aparece muito bem vivo, Benedito Pereira, "a vítima do assassinato".
Reviravolta no processo, e os Irmãos Naves movem contra o Estado uma ação exigindo indenização. Joaquim acabou morrendo, como indigente, num asilo em Belo Horizonte, de doença contraída devido à tortura e à permanência insalubre na prisão, antes de ver o resultado do julgamento. Sebastião ainda viveu o suficiente para assistir nos tribunais a vitória que encerrava a trágica catástrofe que se abateu sobre a família Naves. O ESTADO PAGOU A INDENIZAÇÃO QUE ACHOU SER JUSTA, MAS SERÁ QUE O SOFRIMENTO DE DOIS INOCENTES NO CÁRCERE TEM PREÇO? (Oldack/05/07/010). Tel. (018) 3362 1477.X