CASTIGO NO CARNAVAL( A CRUZ DE CINZA)

Maira era o xodó da família, graciosa e bela a garotinha encantava a todos. Inteligente e comunicativa ela logo se destacou na escola para o orgulho dos pais. Um casal respeitado residentes numa pequena cidade interiorana de dez mil e pouco habitantes. Formado por uma sociedade ordeira e solidaria o município era um exemplo de paz e harmonia, com sua gente simples, de costumes sadios, irmanados com o pensamento voltado para o bem da coletividade.

Maira a princesinha que nasceu para brilhar, era apoiada pela mãe que as escondidas do marido, e até mesmo da própria sociedade a manipulava tentando realizar nela o sonho que acalentou em sua juventude, mas o destino lhe privou. Desfilar numa escola de samba e brilhar como Rainha do carnaval.

Logo que concluiu o curso primário Maira manifestou o desejo de estudar na capital. Filha de pai recatado e prudente, na tradição e nos seus princípios herdados dos ancestrais, ele se opôs a realizar o desejo da filha. Ela apelou para a interferência do pároco da cidade, no sentido de convencer o pai na realizarão de seu objetivo. O religioso muito atencioso e dedicado às questões espirituais de seus paroquianos procurou seus pais na tentativa de solucionar o problema da garota. Cauteloso para não tornar a emenda pior que o soneto, ele sugeriu a mudança da família para a capital. Assim a filha poderia estudar periciada pelos pais sem se expor as modernidades que o conservadorismo hereditário condenava naquela remota época, de princípios morais tão rigorosos.

Usando seu prestigio como líder naquela cidade de costumes primitivos, o religioso conseguiu sem muita dificuldade a transferência do emprego do pai para a capital. Inclusive com melhor remuneração, para o competente ferroviário, duplamente dedicado a família e ao trabalho.

Raimundo só não esperava que o sonho da filha em estudar e ser alguém na vida lhe roubasse noites de sono se transformando em constantes pesadelos. Não tardou e as noites de ausência da filha em casa eram justificadas pela mãe, como sendo os trabalhos em grupos de colegas, exigidos pelo colégio. O pai que desdobrava no trabalho em horas extras para que nada faltasse para a família já alimentava duvidas com respeito à conduta da esposa.

Enquanto isso a mãe que já não era mais tão recatada deixava se levar alimentando a idéia em ver a filha brilhar na escola de samba onde secretamente ela ensaiava. Enquanto ela como acompanhante se divertia com amigos não muito recomendáveis.

Preocupado, mas confiando na esposa, Raimundo concordou que a filha participasse do concurso de rainha no colégio onde estudava. Embora estranhando o evento realizado fora de época. Ocupado passando noites no trabalho sem retornar a sua residência, com o numero de passageiros triplicados na estação ferroviária com as festividades carnavalescas, não teve como a acompanhar a filha que brilhou ao desfilar na avenida. Sua ausência foi o prato cheio para a esposa que se entregou de corpo e alma na folia, afirmando que no carnaval ninguém é de niguem e que todos são de todos. Época que os promotores nem sonhavam com a transmissão pelo rádio tampouco pela televisão, como acontece atualmente.

Quarta feira após o carnaval momentos de refletir, e nada melhor que uma cruz de cinza na remissão dos pecados. Foi o que ocorreu pai mãe e filha assistiram a cerimônia voltando pra casa redimida pela cruz de cinza que receberam piedosamente no ritual sagrado.

Raimundo jamais saberia da imoralidade praticada pela esposa e a filha. Não fora a indesejada gravidez de Maira a qual sua mãe teve que engolir. Mais tarde quando sua ousadia não pode mais ocultar. Apresentou-se como desculpa um estupro no colégio cujo mal feitor desaparecera em seguida. Nove meses após nascia o bebê lindo e saudável, mas trazendo uma cruz cor de cinza na testa.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 15/02/2013
Reeditado em 10/02/2018
Código do texto: T4142094
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