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O PAPACU¹ E O PAPA
Esse badalado e insólito anúncio da renúncia do papa Bento XVI me traz, de volta, no momento, a figura folclórica do certamente já falecido torcedor número 1 do antigo e também extinto América Futebol Clube, desta Capital.
O gajo torcedor, em questão, já teve na pena marruá deste escriba, não lembro se em crônica ou em causo, alguns rabiscos de relembrança pelo que de muito feio era o aludido cidadão.
Sem faltar nem pôr, rotunda e literalmente falando, o Papacu – que os mais eufêmicos preferiam chamar de Papacum – tinha um nariz de arara e boca rigorosamente redonda.
Mas por que e onde o papa Bento XVI entra nesse eito de conversa?
É que o Papacu, que punia fervorosamente pelo América e, por si sozinho, era como que toda a plateia do time rubro, adorava ser chamado de Papa. Talvez achasse ridícula a eufonia do seu verdadeiro epíteto e, escreveu não leu, o moço jurava de fé na ponta da língua que sua graça seria Papa.
Claro que o nome dele, o da pia batismal, não era Papacu. Não e não, de jeito nenhum. Só que foi assim que o tipo caiu na boca do povo, lá desde a sede, na Av. Dom Manuel, pedaço bem central desta urbe, até os bairros mais periféricos, onde o Judas perdeu as botas.
Em dia de jogo do seu – lá dele, lógico – brioso e querido esquadrão, ninguém que ficasse à frente do exótico torcedor; a qualquer chute bobo de um atleta rubro o Papacu metia a perna no ar, fazia aquela mímica de pose, e tudo tintim por tintim.
Ainda bem que o time do América muito pouco fazia gols e menos ainda ganhava alguma partida de pelada. Todavia os chutões dos atletas eram saldo, líquido e certo, para as pernas do nosso herói, que era bonzão tanto na esquerda quanto na direita. E o homem chutava mesmo.
Mais ainda, para o governo de todos: se houvesse algum bobo, ali na frente dele dando canja, na hora de um lance mais ousado, ou que a coisa se desse no ínterim de um golzinho de milagre, o pobrezinho da frente iria era tomar pé no traseiro, até não querer mais. Isto era líquido e certo.
O Papacu não batia prego sem estopa, de jeito nem qualidade.
Pau para toda obra, nos bastidores do América, fazia favores e mandados, à toa e de graça, que o camarada era servidor às pampas. Também fazia bicos, para faturar trocados, e eis que um dia lá estava ele aboletado na Rádio Assunção Cearense, uma emissora que fora ligada à Igreja, assim pertencente à Arquidiocese da Cidade de Nossa Senhora da Assunção, a “loira desposada do Sol”, na expressão do nosso poeta Paula Ney.
Lá um dia, num desses bicos que fazia, o Papacu estava a postos na citada emissora e o locutor deu na telha de ir a uma mercearia próxima só Deus sabe fazer o quê, quiçá tascar uma pinga. E, música de Nelson Gonçalves no ar, em sessão contínua, então o comunicador avisou ao solícito Papacu: “– Se alguém ligar, diga que fui ali e já volto”.
Dito e feito. E assim que o locutor se foi à venda, o telefone preto tilintou no ar: “– Alô, quem fala?” – fez a voz do outro lado².
“– Aqui é o Papa!” – asseverou o Papacu, pondo um doce de eufemismo na sua própria graça.
“– O quê? Quem fala?”
Outra vez detona o atendente improvisado:
“– Sim, senhor. Sou eu, o Papa”.
Poucos minutos, estando não tão distante, no jornal O Nordeste, que também pertencia à Igreja, risca na rádio o Padre Landim, que vinha tirando fumaça pelas ventas: “– Quem foi que atendeu ao telefone"?
“– Fui eu mesmo, o Papacu”.
O que este servo de Deus e do América não sabia é que a voz do outro lado era a do mandachuva do jornal e da emissora de rádio. Logo ele, sacerdote e zeloso obreiro das coisas da Arquidiocese teve que ouvir o que ouviu. Certamente louco para apertar a mão do Santo Padre da Igreja Católica Apostólica Romana, não lembro bem quem seria àquela época.
O gajo torcedor, em questão, já teve na pena marruá deste escriba, não lembro se em crônica ou em causo, alguns rabiscos de relembrança pelo que de muito feio era o aludido cidadão.
Sem faltar nem pôr, rotunda e literalmente falando, o Papacu – que os mais eufêmicos preferiam chamar de Papacum – tinha um nariz de arara e boca rigorosamente redonda.
Mas por que e onde o papa Bento XVI entra nesse eito de conversa?
É que o Papacu, que punia fervorosamente pelo América e, por si sozinho, era como que toda a plateia do time rubro, adorava ser chamado de Papa. Talvez achasse ridícula a eufonia do seu verdadeiro epíteto e, escreveu não leu, o moço jurava de fé na ponta da língua que sua graça seria Papa.
Claro que o nome dele, o da pia batismal, não era Papacu. Não e não, de jeito nenhum. Só que foi assim que o tipo caiu na boca do povo, lá desde a sede, na Av. Dom Manuel, pedaço bem central desta urbe, até os bairros mais periféricos, onde o Judas perdeu as botas.
Em dia de jogo do seu – lá dele, lógico – brioso e querido esquadrão, ninguém que ficasse à frente do exótico torcedor; a qualquer chute bobo de um atleta rubro o Papacu metia a perna no ar, fazia aquela mímica de pose, e tudo tintim por tintim.
Ainda bem que o time do América muito pouco fazia gols e menos ainda ganhava alguma partida de pelada. Todavia os chutões dos atletas eram saldo, líquido e certo, para as pernas do nosso herói, que era bonzão tanto na esquerda quanto na direita. E o homem chutava mesmo.
Mais ainda, para o governo de todos: se houvesse algum bobo, ali na frente dele dando canja, na hora de um lance mais ousado, ou que a coisa se desse no ínterim de um golzinho de milagre, o pobrezinho da frente iria era tomar pé no traseiro, até não querer mais. Isto era líquido e certo.
O Papacu não batia prego sem estopa, de jeito nem qualidade.
Pau para toda obra, nos bastidores do América, fazia favores e mandados, à toa e de graça, que o camarada era servidor às pampas. Também fazia bicos, para faturar trocados, e eis que um dia lá estava ele aboletado na Rádio Assunção Cearense, uma emissora que fora ligada à Igreja, assim pertencente à Arquidiocese da Cidade de Nossa Senhora da Assunção, a “loira desposada do Sol”, na expressão do nosso poeta Paula Ney.
Lá um dia, num desses bicos que fazia, o Papacu estava a postos na citada emissora e o locutor deu na telha de ir a uma mercearia próxima só Deus sabe fazer o quê, quiçá tascar uma pinga. E, música de Nelson Gonçalves no ar, em sessão contínua, então o comunicador avisou ao solícito Papacu: “– Se alguém ligar, diga que fui ali e já volto”.
Dito e feito. E assim que o locutor se foi à venda, o telefone preto tilintou no ar: “– Alô, quem fala?” – fez a voz do outro lado².
“– Aqui é o Papa!” – asseverou o Papacu, pondo um doce de eufemismo na sua própria graça.
“– O quê? Quem fala?”
Outra vez detona o atendente improvisado:
“– Sim, senhor. Sou eu, o Papa”.
Poucos minutos, estando não tão distante, no jornal O Nordeste, que também pertencia à Igreja, risca na rádio o Padre Landim, que vinha tirando fumaça pelas ventas: “– Quem foi que atendeu ao telefone"?
“– Fui eu mesmo, o Papacu”.
O que este servo de Deus e do América não sabia é que a voz do outro lado era a do mandachuva do jornal e da emissora de rádio. Logo ele, sacerdote e zeloso obreiro das coisas da Arquidiocese teve que ouvir o que ouviu. Certamente louco para apertar a mão do Santo Padre da Igreja Católica Apostólica Romana, não lembro bem quem seria àquela época.
Fort., 14/02/2013.
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(¹) Antes que alguém saia por aí pensando minhocas, bom que se diga que papacu, ou papacum, aqui, no Nordeste brasileiro, é o tuim, passarinho verde à semelhança de um periquito, só que em miniatura. Bicho miúdo. Nem mestre Aurélio nem o Houaiss registram o termo papacu, mas o primeiro, para tuim, lhe aponta diversas designações sinônimas, a saber: tiú, tuietê, tuitirica, tuiuti, cuiúba, coió-coió, cu-cosido, cu-tapado, bate-cu, quilim, periquitinho, periquito-vassoura.
(²) Tudo que está aí, nas mal traçadas acima, é verdadeiro. Claro que só aumentei os dotes de chutador da personagem. Agora, o diálogo com o Padre Landim, que o garatujo a meu talante, eu o ouvi, já por duas vezes, da boca do exímio comunicador Tom Barros, na Rádio Verdes Mares AM, a dita Verdinha, no popularíssimo programa matinal do Paulo Oliveira.
(¹) Antes que alguém saia por aí pensando minhocas, bom que se diga que papacu, ou papacum, aqui, no Nordeste brasileiro, é o tuim, passarinho verde à semelhança de um periquito, só que em miniatura. Bicho miúdo. Nem mestre Aurélio nem o Houaiss registram o termo papacu, mas o primeiro, para tuim, lhe aponta diversas designações sinônimas, a saber: tiú, tuietê, tuitirica, tuiuti, cuiúba, coió-coió, cu-cosido, cu-tapado, bate-cu, quilim, periquitinho, periquito-vassoura.
(²) Tudo que está aí, nas mal traçadas acima, é verdadeiro. Claro que só aumentei os dotes de chutador da personagem. Agora, o diálogo com o Padre Landim, que o garatujo a meu talante, eu o ouvi, já por duas vezes, da boca do exímio comunicador Tom Barros, na Rádio Verdes Mares AM, a dita Verdinha, no popularíssimo programa matinal do Paulo Oliveira.