As arcadas do mundo
O sorriso de Teodoro era do tamanho do prazer de todos os homens. Uma sutileza da fada dos dentes, alinhar tão polidos e tão perfeitos. Uma gentileza das cáries, desabitar por puro respeito. Era um sorriso de embebedar os olhos, o deleite de qualquer retina. Tornou-se um processo conhecido: as bochechas ganhavam proeminência, as marquinhas de expressão emergiam à testa e o nariz funilado franzia. A boca arqueada era uma lança reluzente.
Dentista algum explicara como hastes divinos sustentavam os lábios com tamanha precisão, o tom de giz dos caninos ou a luz viva dos molares. Quarentonas emolduraram seu odontograma, despeitados e moças apaixonadas suicidaram-se, cegos sucumbiram à depressão.
O sorriso de Teodoro despontou na conversa popular, cortou as fronteiras, era do conhecimento de todos, e todos queriam julgar sua importância. E numa assembléia com autoridades religiosas, membros da ONU, profissionais da odontologia e chefes de estado, estava decretado, e Teodoro, que era gago, mal soubera pronunciar: Precioso patrimônio celeste da paz dentária mundial.