O PALETÓ DE FEIRA...

Em visita a uma cidade do interior de Pernambuco, logo depois do almoço, fomos fazer um city tour pelo centro e aproveitar da hospitalidade do lugar. A descrição desta cidade é igual as demais cidades do mesmo porte. Casas de cores berrantes, janelas de cores escuras em contraste com o verde ao redor. Praça principal e única, com bancos de jardins com os moradores mais velhos pondo a conversa em dia. Uns falando do tempo, outros a reclamar do prefeito, fofocas de infidelidade e amenidades assemelhadas.

Ao me recostar num destes bancos, um destes senhores olhou para mim e perguntou: “Ocê tem quantos metros de artura”. O que lhe respondi: Um metro e noventa. Senhor. Ele, me olhando de cima abaixo, retrucou: “Tá me enrolando”? “Meu neto que tá pra chegá da capitá, me disse que tem essa artura, e não é tão arto assim não”. Pacientemente, eu lhe disse que essa era a minha altura e, talvez, ele tivesse ouvido errado quando o neto lhe informou a sua altura. Ele não se deu por satisfeito e me informou: “Olha aqui! Meu neto comprou um paletó lá na barraca do seu Juca, no mês passado antes de viajar, e mandou ele ajeitar para usar na missa quando chegar. Quer apostar que o paletó não cabe em ocê”? Curioso, eu pensei: Será que isso vai sossegar este senhor? E respondi: Vamos lá.

Chegando à barraca do senhor Juca, o velho toma a frente e pede a ele o paletó encomendado para seu neto. A barraca do seu Juca não era alfaiataria, era uma barraca de feira, junto a outras tantas que vendiam de tudo um pouco. Banana, feijão, cigarro, o que se imaginar. O velho pega o “pacote”, desfaz o embrulho e me mostra um paletó surrado, usado, que mais parecia que ficara no sol o tempo todo. Sem jeito e meio arrependido de ter me metido nessa empreitada, segurei o paletó como se fosse um terno de Giorgio Armani, e comecei a vesti-lo. Para a minha surpresa o paletó mal cabia em mim. O braço quase ficou no cotovelo e as costas apertadas que mais parecia que eu tinha uma corcunda. Nesse momento, eu perguntei baixinho para o Juca da Barraca: Esse paletó é para uma pessoa de que altura? Ele respondeu: “Pra um cabra de um metro e setenta, mais ou menos”. E explicou: “É que o neto do João tem mania de grandeza e diz pro avô que tem uma artura maior”. Eu, sorrindo, me virei para o velho, dizendo: Tá vendo que esse paletó não cabe? E ele, com uma cara irônica, sorrindo mais que eu. Retrucou: “Tá vendo que oçê não tem só um metro e noventa”?

Inaldo Santos
Enviado por Inaldo Santos em 13/02/2013
Reeditado em 14/02/2013
Código do texto: T4138608
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