CARNAVAL DE BEZERROS PERNAMBUCO

A folia é grande, o povo tá com a gota! Maria Pé de Valsa está pronta prá frevar, vestida de chita, maquilagem barata comprada na torda de Seu Zé Estevão, perfume barato, fogo no rabo e um braseiro nos pés. Lá vai Maria, Maria vai, afinal hoje nem tem onibus de Zé do Mé, nem seu Mané vai vender "MANGUZÁ"...

Maria vai frevar, frevar vai ela, toda bela, fogo no rabo, calor na "priquita", Maria "mal vista" pelo povo da cidade... Ela nem é daqui, na Serra do Retiro ela mora, muito embora, na hora da folgança, ela sai de mansinho, no escurinho do Cinema Alvorada, pé na entrada, ela faz coisa que "até Deus divida"...

Mulher da vida, Maria nem é, o que ela é? Mulé descoisada, safada no bom sentido, "piniqueira" pé na estrada, faz tudo a "discarada" sem nem se preocupar...Maria Mulé Mulambo, nem sabe e nem erro lhe cabe, por instinto e por vontade, pratica saciedade, esquecida da verdade, sem nem se dar por conta, é a "bola da vez" na cidade...

Hoje é carnaval, a cambinda está pronta, Heleno da vaca na esquina desponta, tem Sucesso por companheiro, Dom Quixote e Sancho Pança eles são os personagens da vez, ao gosto do freguez, por onde passa deixa lembrança, alegria do velho e da criança, um furtivo olhar Maria lança e de si per si esmiuça: que "frango" bonito é esse Heleno, ele pula "qui nem pipoca", a cambinda no regaço, Sucesso no antebraço, no abraço solta a franga... A Banda Cônego Alexandre ataca de frevo, nem nem Floripe do Jequiá e nem o bêbedo fogem ao folguedo da dança... Treme o chão da avenida, Maria envaidecida, rodopia em meio à multidão, o cheiro do pecado afiança, saia rodada, a Pé de Valsa mostra a calça bem na zona do perigo, a "perseguida" protegida, nem arrisca um lance de perdição...

Que carnaval bom danado, conforme o combinado, até Zé Pereira, há quem diga ser Zé Pilintra, esquece o sábado de abertura de carnaval, esquece tudo em sua curta vida de frevança, feito criança pula até quarta feira chegar... Maria Pé de Valsa, nem se cansa de tanto pular, nos intervalos, de noitadas alegres, pula na rua, dança no Mercado de Farinha, tenta mijar no terreiro de Dona Zefinha, leva um balde de água no pé do rabo, nem mesmo assim ela desiste, a cagança foi boa, tá pronta prá embarcar em outra canoa, arranja Zé de Arruda, vão a um hotel barato lá na pista, fazem amor adoidado...

Carnaval da cor do pecado, tange o sino, Mané Leite, sobe as escadas da torre, tombando aqui e acolá, apimentado pela Mocó de Alcides, num repicar solene lembra a todos que a festança acabou e a quarta feira de cinzas chegou...

Maria sobe a serra, acorda prá vida, mesmo sabendo que tudo acabou, nem imagina que lá no cantinho da vida, escondidinho na barriga, ela carrega um filho seu e daquele safado Zé de Arruda...

Carnaval de Bezerros, que saudades daqueles tempos eternizados na mente deste que lhes narra um fato sem nexo mas carregado de amplexo a todos vocês que se dispuserem a ler esta narrativa...

Carlos Lira

clira
Enviado por clira em 10/02/2013
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