Solitário... Não um Solitário qualquer!

Solitário... Não um Solitário qualquer!

Um cidadão sozinho adentra num chique Bar. Antes, da porta tira uma mirada geral no irrequieto ambiente. Satisfeito com o que vê, dirige-se à uma discreta mesa, que lhe pareceu ser estratégica, pois não fica escondida, nem tampouco muito à vista, escandalosamente exposta.

Senta, não se dirige a ninguém; mudo fica a olhar. O Olhar é vazio. Olha para alguém e, parece, para ninguém. Vira-se para o balcão central do Bar, onde está o garçom. O garçom, nem ai,atende a todos com indiferença educada e polida, porém, fria e profissionalmente. O cidadão fixa-o por um tempinho, até que o mesmo percebe-o. Ambos se olham, até que através de gestos, solicita uma bebida, uma cerveja. O gesto é característico, universal; os “botequeiros” o entendem.

Lépido e prestativo também em silêncio, o garçom o atende. Sem palavras enche o copo e se afasta em direção às outras mesas.

O cidadão solitário, bebericando a pequenos goles a sua gelada bebida passou a olhar ao seu redor sem prestar atenção especial naquilo que estava vendo. Nada parecia lhe despertar maiores interesses. Simplesmente olhava.

Ao redor de sua mesa e mais além, os “botequeiros” conversavam vários assuntos, nenhum em especial... Uma Babel!... “Abobrinhas” poluíam sonoramente todo o recinto. Uma TV sintonizada a todo volume, contribuía para balbúrdia.

Ele solitário a tudo assistia e, parecia não se incomodar com o barulho. Sua cara... Não era de um otário, mas séria. Gole sim, gole não sua garrafa esvaziara, chegara ao fim já há algum tempo. Ele impávido, fica algum tempo olhando-os, copo e garrafa vazios. O semblante sem emoção.

Um Solitário, ilhado por tanto calor humano!...

O garçom – sempre ele; o preferido dos solitários!-, livre por um brevíssimo tempo, dá-se conta do seu “esquisito” freguês. Vê que ele já bebeu toda garrafa. Solícito chama-o várias vezes. Sua voz se perde ante ao barulho do ambiente.

O Solitário nem ai. Ele era a própria figura. Copo, garrafa e olhos vazios...

Um vizinho da mesa do Solitário, um “prá frente botequeiro”, já há algum tempo o observava. “Que diabos! Esse Cara não sorrir, não fala... Mudo chegou e mudo ficou e está”! As únicas coisas que fez até agora são gestos com a cabeça a girar para todos os lados para melhor olhar à sua volta. Vez por outra faz também alguns gestos com os ombros. No rosto, esboça ligeira e discretamente um sorriso. E isso era tudo! Realmente um Solitário!

O “prá frente botequeiro” não resistindo à sua curiosidade, da sua mesa fez em voz alta em direção ao “Solitário” um comentário à guisa de provocá-lo, a participar do papo que corria solto no Bar: “Senhor, senhor tudo bem? O senhor quietinho ai e de costas para o senhor? O senhor percebeu?”

O Solitário mudo, continuou a olhar indiferentemente sem se fixar em algo ou alguém particularmente. Não percebeu ou, pelo menos não demonstrou que alguém estava se dirigindo a ele.

“Ei, ei! Senhor” Insistiu o “prá frente botequeiro”. “Senhor, está ai ...” Não se contendo, levantou-se e aproximando-se do “Solitário”, postando-se à sua frente e apontando em direção oposta para um enorme espelho preso à parede que estava refletindo todo o ambiente do Bar, disse: “O senhor está de costas para o senhor mesmo! Veja!” A intenção do “prá frente botequeiro”, era provocar o papo, percebia-se claramente.Queria integrá-lo ao ambiente, quebrar a sua solidão.

O “Solitário” demonstrava não estar entendendo os gestos do seu atabalhoado interlocutor. Mas por fim , meio desequilibrado, virou-se na direção apontada, viu-se refletido no espelho, balançou a cabeça indiferentemente, soltou um baixo grunhido, e fixou seu olhar no “prá frente botequeiro”. Em seguida fez vários sinais entre eles, um que indicava ser ele um deficiente auditivo. Um surdo mudo.

No que o “prá frente botequeiro” quedou-se boquiaberto. Sem reação!

Satisfeito o “Solitário” desandou a gesticular – “Língua dos Sinais -, talvez pensando consigo mesmo; “Agora sim, encontrei um parceiro para um animado papo...Abobrinha na Língua dos Sinais!

“Quem é prá frente e fala muito, pode ter que saber falar a Língua dos Sinais”!

BNandú 04/02/2013

BNandú
Enviado por BNandú em 04/02/2013
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