Conheceu-o no carnaval. Estivera viajando com os pais e, ao chegar, suas colegas já o conheciam e se derretiam por ele que, diga-se passagem, era lindo, com um sorriso que iluminava como o sol.
   Sabe-se lá por que cargas d’água, ele se interessou por ela que era magrinha, com pouca frente e igual quantidade de fundos. Talvez tenha sido por sua inteligência, pois ele era inteligente também e com gosto por literatura igual ao dela. Mas havia um problema: apesar de adolescente – dezessete anos – era homem, e acho que Adão foi o único homem que se contentou com uma mulher somente... por absoluta falta de opção. Ele não era diferente dos outros homens e queria ficar com ela e com todas que o rodeavam. Sentia-se o dono do pedaço e, às vezes, dava-lhe umas esnobadas.
    Ela sofria, porque fazia tudo para agradá-lo, mas não deixava por menos: ele dançava com outra, ela dançava com outro, ele namorava outra, ela namorava outro... E então, ele atacava: vinha com conversa mole, dizia que tinha algo importante para lhe dizer, mas já que ela estava namorando outro...
    A boba se derretia e terminava o namoro, e ele... nada! Continuava no chove não molha; uns beijinhos nela de vez em quando e charme em cima das outras.  Às vezes, ele ficava todo para o seu lado e ela achava que finalmente tudo estava nos eixos, mas não estava...
    Para agradá-lo, fazia seus trabalhos de geografia: mapas hidrográficos da Europa que pintava  a guache e  nanquim,  depois de ampliá-los, debruçada sobre o Atlas Escolar, dias seguidos. Vocês já devem ter visto o mapa hidrográfico da Europa... coisa de louco!  Os pais dela estavam a ponto de ir à escola reclamar com os professores por trabalho tão absurdo – ela dizia a eles que os mapas eram para ela.  E o bonitão só explorando, até que...
    Tudo tem seu tempo e, depois de quase dois anos nessa situação, apareceu em sua vida outro bonitão que despertou sua atenção. Ao contrário do primeiro, ele fazia tudo para agradá-la e ela foi se encantando e deixando o outro de lado.
     Ele fez o jogo de sempre – mas logo agora, que eu tinha algo importante para falar a você? – dessa vez, porém, ela exigiu: fale! Ele então disse que a amava e nunca havia amado outra garota daquela maneira, que estava com ciúme, que isso que aquilo e até chorou. Mas era tarde... ela não se emocionou.
    Não sei se ele tirou disso alguma lição, mas quando ela casou, ele comentou com amigos: quem diria que eu poderia perdê-la... ela me amava tanto...
    Algum tempo depois, se avistaram numa calçada da vida, vindos em sentidos contrários, mas ele prontamente entrou numa loja, por onde ela passou sem olhar, com o coração aos saltos.
 
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rj, 04/02/13
(NÃO ACEITO DUETOS, POR FAVOR)