TERROR NO VELÓRIO.
Era noite. Por volta de meia noite, estavam umas oito pessoas que velavam um defunto no velório municipal. Era uma pessoa que morrera. Não tinha família, tinha alguns amigos e sempre comentavam que ele era meio estranho. Tinha hábitos sem nexo. Não rezava, cantava canções estranhas, fazia apologia a outras divindades, falava muita besteira, tanto desrespeitosas, tanto pessoais. Não tinha muitos amigos. Sempre era importuno onde se chegava. Não tinha amigos, tinha algumas pessoas que sentiam-se pena dele.
Seu velório foi avisado e somente poucas pessoas foram até lá.
Destas pessoas, ficaram poucas, talvez umas duas ou três.
O Mané, como era conhecido o Sr. Manoel da Costa, estava presente. Um senhor de meia idade. Muito caridoso, muito prestativo nas horas difíceis e também era vereador. Para cumprir estas honrarias, sempre estava presente nos velórios transmitindo palavras de conforto e esperança para as famílias. Assim era conhecido, mas tinha um medo muito grande de cemitério, de velório e de funerária. Sempre ia acompanhado da esposa, de um dos filhos ou cunhados ou genros, mas sempre acompanhado por alguém.
Neste dia, o Mané teve de ir sozinho, porque sua família foi viajar. Não teve nenhuma companhia. Teve, sim, o vizinho, mas este esteve no velório e logo seu celular tocou e teve que sair. Ficou o Mané sozinho, como sempre, mas na companhia de duas pessoas e velavam o defunto.
A noite estava linda, mas algumas rajadas de vento faziam com que as nuvens se juntavam e relâmpagos eram vistos por toda parte.
As velas sempre apagavam, mas eles as acendiam e comentavam sobre a vida. Vida para alguns deles era muita diversão, muita festa, enfim, sempre aproveitá-la.
O Mané ficava ouvindo as estórias, mas olho no defunto, olho nas velas, nas luzes, no tempo, na chuva que começará a cair, mas o medo fazia-lhe tremer todo seu corpo.
Uma das pessoas que estavam presentes começou a falar que o defunto tivera feito parte com o diabo e que quando ele morresse viria buscar, talvez de carne e osso mais sua alma.
Foi o bastante. O Mané começou a tremer mais. Ele, sempre com medo, sempre apavorado. Não tinha ido de carro, nem mesmo tinha levado o guarda-chuva e os que velavam o defunto estavam falando de alma vendida. Que sufoco, que decepção.
Um silêncio pairou sobre eles. Viram-se um clarão de um relâmpago, um forte estrondo do trovão e as luzes foram-se embora. Restavam uma luz da vela, que a outra havia apagado com o vento e aquela que restara já enfraquecida, também apagara.
Um gemido forte: mum mum urm um um um um mommommm...
Foi o suficiente. Um saiu pela janela, outro pela porta e o Mané gritando pelo amor de Deus que o diabo perdoasse, que ele, o Mané, não queria ver o defunto sendo levado. Saiu gritando, na chuva forte, caindo na rua, levantando-se, caindo, mais uma vez, gritando, chorando, no instante estava em sua casa.
Um que pulou a janela quebrou o braço e saiu correndo também gritando. O outro, de tanto susto, perdeu a voz, mas também chegaram em suas casas.
No velório, porém, o defunto ficou sozinho. Sem velas acesas, a chuva molhou dentro do caixão, as flores se espalharam pelo chão e o vento forte derrubou o caixão e seu corpo caiu pelo chão.
Quando amanheceu, somente apareceu o dono da funerária para fazer o enterro. A notícia espalhou para a cidade. Ninguém foi ao enterro. O defunto havia vendido sua alma.
Perto do velório, estava estacionado um carro de propaganda que fazia anúncios para a cidade. Seu motorista gostava de beber muita cachaça. Na noite anterior, bebeu muito, ficou totalmente embriagado e deixou o microfone ligado. Os gemidos que fizeram com que os acompanhantes do defunto corressem e pensassem que o diabo estava vindo buscar o corpo, eram, na verdade, o João, motorista do carro, que estava tentando pedir socorro, mas de tão embriagado, não conseguia pronunciar nenhuma palavra.