MOTORISTA DE PRIMEIRA VIAGEM
                         
 
     Eu estava naquela idade em que os homens não medem esforços para ajudar em caso de dificuldade – vinte e quatro anos. Havia acabado de comprar o meu primeiro carro e achava que para o carro andar, bastava girar a chave na ignição e partir, sem medo de ser feliz. Pegava meu filho, então com quatro anos, meu material para dar aulas e saía ruas afora.
      E rodava e rodava... levava a criança até a casa da minha mãe onde a deixaria até a noite, ia para a escola, fazia compras na saída, pegava-a de volta e voltava para casa. Isso se repetia dia após dia... sentava no carro e zás, lá ia eu...
     Um dia, à noitinha, mal saíra da rua onde minha mãe morava, ia beirando a praia, como sempre fazia, até que o carro parou. Pensei: ué... o que aconteceu? O vendedor me garantiu que o carro estava sem problemas, aposto que me enganou...
     Girava a chave e o carro nada, mortinho! Um motorista “prestativo” que ia passando se ofereceu para me ajudar – como já falei, na idade em que eu estava não faltavam “ajudantes” – e dispôs-se a empurrar o meu carro com o carro dele, para ver se pegava “no tranco”.   Colou para-choque com para-choque e acelerou... e acelerou e acelerou. E o carro então... nada!... continuava mortinho!     Depois de percorrer a extensão da praia inteira empurrando, ele desistiu e disse: olha, não vai pegar não... E foi embora.
   Eu, então, sem qualquer alternativa, fechei o veículo, peguei o filho e as tralhas e entrei num ônibus. Quando desci no meu bairro, procurei um orelhão para comunicar ao meu marido que o carro tinha dado defeito e que eu o havia abandonado à beira da praia, enguiçado, e tal e tal; desfiei um rosário de queixas... Ele só fez uma pergunta: você algum dia, desde que comprou o carro, botou gasolina nele?
    Responder o quê?

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RJ, 30/01/13
(não aceito duetos, por favor)