O LEITÃO E A MANDIOCA
Terminada a obra da construção da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, na primeira metade dos anos 70, começou a discussão sobre o futuro da cidade, planejada e construída para servir de base aos trasbalhadores na referida obra. Muito se especulou. Deixaria uma vila para a moradia dos Operadores? Usaria, o Estado, a infra-estrutura para a criação de uma Penitenciária Rural Modelo (gigantesca, como gigantesca era a Usina Hidrelétrica?). Transformá-la num pólo industrial do interior? (estava na moda falar em interiorização da indústria e do desenvolvimento). Transformá-la na Sede de uma 3.a Universidade Pública Estadual? Esta última idéia acabou prevalecendo. Assim nasceu a UNESP. A sede acabou ficando na capital por exigências burocráticas. Mas para a cidade veio uma das principais unidades da recém criada Universidade. E o que fazer com mais de 3 000 hectares de terras desapropriadas? Acabou sendo feito um assentamento de pequenos agricultores sem terra (Cinturão Verde) o que poderia eventualmente servir de base para uma futura Faculdade de Agronomia.
Uma introdução de aparência grandiosa para um simples "Causo", no entanto muito pitoresco.
Meu amigo, compadre, colega e Biólogo, Prof. Donato e eu tínhamos uma estranha ambição de passatempo. "Tocar um pequeno roçado". Decerto motivado pelo fracassado modelo de pequenas propriedades agrícolas, onde estão nossas origens. O legado da Educação de nossos pais era bem maior que a voracidade da sociedade de consumo. E daí nossa paixão. A roça.
Nos passeios de fim de semana pelo Cinturão Verde, conhecemos um fantástico caboclo, que recebera uma gleba de onde tirava o sustento pra sua família. "Seu Galdino" era seu nome. Sabedor de nossa paixão pela roça nos ofereceu um pedaço de terra "pra gente se divertir". Terra boa, preta e argilosa. Extremamente fértil. Nunca se precisou utilizar adubo. Plantamos milho, de que fizemos pamonha na cozinha do Colégio Euclides da Cunha onde eu era Diretor. Foi um grande encontro à moda caipira. Plantamos ainda muita batata doce e mandioca (o início de nosso "problema").
Certo dia "Seu Galdino", todo contente, nos chamou para mostrar a mais nova aquisição: Uma "Marranzona", da raça Piau que estava "Mojano". Partilhamos, é claro, de sua alegria. E logo vieram as "consequências". Dez leitões. Quase um pra cada teta (tinha doze). Mamar era na Mãe. Comer era por aí. Principalmente na roça "Dos professô". Reclamamos com ele. Disse que ia fechar. Se fechou não pararam no cercado que tinha mais efeito moral do que propriamente obstáculo. E a roça de mandioca estava cada vez mais a beira do risco. Cova de mandioca que bicho mexe não serve mais pra nada. Quando nosso herói e dono dos pequenos via o estrago dizia que iria tomar providências, mas as estas não apareciam. Daí surgiu nossa idéia. Matar um leitão além de ser pecado tinha todos os ingredientes de ingratidão. Levar para assá-lo era roubo. E o que fazer então? Que tal levá-lo "prum passeio"? Mas e pra pegar o adolescente suíno? Nisso contamos com um eventual sócio nosso, também adolescente, que a meu pedido e muito a contragosto, também ia pra roça conosco aos sábados e domingos à tarde: meu filho Dudu. Como a leitoada estava "cevada" no mandiocal não seria difícil a execução da tarefa. Não eram ariscos. O negócio era o seguinte: Dois (Dudu e Donato) iam chegando.. Chegando...Bote simultâneo. Donato nas pernas pra segurar. Dudu no focinho pra não gritar. E eu com um saco de estopa pra transportar. E assim foi. "Pá buff!!!". Sem quaisquer ruídos suspeitos, lá foi nosso amigo suíno fazer um passeio na praia da Balsa (há uns 5 km.) Demos-lhe a liberdade de voltar quando quisesse...
O resultado do remédio foi tão rápido que surpreendeu o próprio médico. Na segunda feira, quando lá chegamos, nove leitões estavam fora de circulação (o irmão dado à prática de turísmo ainda não tinha voltado), num robusto cercado de assoalho alto. Antes de qualquer observação de nossa parte, seu Galdino nos tranquilizou: "TIVE DE FECHÁ ESSES BANDIDO. O POVO TAVA CUMEÇANDO A ROBÁ".(Oldack/14/06010). Tel. (018) 3362 1477. X