ESTRUME DE BOI

Escutei de minha avó um caso que até hoje me pipoca na cabeça.

Para ir de um canto a outro, ela tinha que bater chão a pé. Havia chovido e o sol veio quentando de rachar a moleira, um trem diferente do normal. Encheu umas bilhas de água e botou pé na estrada com seus irmãos.

Faltando ainda um bom trecho para chegarem, com o sol judiando, já não tinham mais água. Nenhum riacho ou fazenda por perto para pedirem um bocadinho. Começaram a sentir mal, a boca esturricada, estavam que nem lenha acesa no fogão. Foi quando um dos irmãos viu os estrumes de boi na beira da estrada. O excremento afunda no meio, fica com formato de cuia e estes ainda retinham a água da chuva. Não tiveram dúvida, mataram a sede.

Passei por uma situação parecida. Fazíamos uma caminhada pros lados da fazenda, muito calor e uma sede "de com força". Avistei os estrumes cheios de água. Lembrei-me de vovó. Fui abaixando devagar, relutando, a água estava clarinha, fui chegando mais perto, a sede aumentava, mais perto e... o estômago revirou, foi uma náusea danada.

Minha madrinha chegou com o carro. Entrei pálida, perguntou por que eu cheirava o cocô do boi. Achei perigoso abrir a boca para responder.

Olhe, minha avó não era mulher de mentir, mas, será possível?