A fome e a legislação ambiental
A fome e a legislação ambiental
Aquele cidadão lá do agreste, terra judiada e esquecida. Queimada de sol escaldante. Chuva, só uma vez por ano e olha lá.
A fome campeia solta. Pobre homem, sem ter o que comer abateu a última ararinha azul, espécie que estava em extinção e agora finalmente extinta acalentando o estômago do pobre homem e seus rebentos famintos.
Nos tempos de hoje, com tanto policiamento ambiental, logo foi denunciado e preso. A prova foram os aneizinhos que estavam no pé da ararinha azul, que ainda estava ao lado do fogão de lenha do casebre de pau-a-pique.
Foi preso sem dó nem compaixão. Acusado por todos, quase vitimado por linchamento.
Mas, felizmente ainda no país existe gente sensível e fórum de apelação. Um advogado, compadecido do pobre homem toma a causa a si e busca defendê-lo.
Os organismos ambientais eram poderosos e tinham um arsenal de advogados e leis que amparavam suas argumentações. O homem, apesar da situação miserável em que vivia deveria se exemplarmente punido.
Enfim, até o juiz do local estava condenando o homem.
Os debates duraram muitos dias, afinal tratava-se da ararinha azul – a última do sertão.
O fato é que o assunto chegou ao Supremo Tribunal Federal, que, apesar de dois votos para condenar o réu, como sempre dos Ministros Lewandowski e Dias Toffoli (só prá contrariar o Joaquim), o réu foi absolvido. Afinal, ninguém poderia morrer simplesmente porque não podia abater algum animal da natureza para se alimentar não é mesmo? Afinal, para preservar a própria vida e de seus familiares, porque não abater a avezinha. Como poderia o pobre réu saber que se tratava de algo tão importante e em extinção?
Finalmente o veredito.
Os juízes, na sua maioria, entenderam que realmente em caso extremo, o homem realmente apela para o que existe ao alcance na natureza. Assim, não tivera ele outra coisa a fazer a não ser alimentar-se, para que não fosse mais uma vítima de lugar tão agressivo ao homem, vivendo em um sertão inóspito e rude.
Estava então livre para continuar sua labuta na busca de sobrevivência naquele sertão seco e desolado!
Após tudo isso, quando o homem estava já com a decisão final do STF, pergunta-lhe o juiz do STF, Joaquim Barbosa, muito reverenciado devido sua atuação no processo conhecido como Mensalão, onde os correligionários de Lula e do PT foram condenados:
- Meu bom homem, você está livre. Mas, dadas as intermináveis discussões, fiquei assaz curioso, e agora que você está mesmo livre, poderia me dizer: afinal que gosto tinha a carne de ararinha azul?
- O homem não titubeou em responder:
- Ora Seu Ministro Joaquim, tinha o mesmo gostinho daqueles Micos Leões Dourados, que a gente não encontra mais em lugar nenhum...