O CORONEL
Ainda de calças curtas, lá pras bandas do Sul de Minas querido, que se passou este causo...
- Tia Nica! Bas noite! Sua benção!Tem pouso para nós? Bradou de cima de seu cavalo Árabe preto como carvão, o Coronel Jose Alves.
- Deus te bençoi! Tem sim Zezin! Apeia e achegue-se, manda dar água aos animais, que devem ter sede e fome. No fundo tem as cocheiras, depois vão se lavar e venham comer...
- Tizil, ouviu tia Nica? Vai com o Bastião levar os animais pro trato na cocheira, depois se lavem e venham comer!
- Sim sor Coroné!
- Tia Nica, de quem é esse moleque? Tem uma cara de danado! Se for mesmo, vou levar pra fazenda pra endireitar o bicho.
- É meu neto filho da Miriam, minha caçula. Levado da breca, até parece que tem parte com o Demo...
- Moleque, vem cá! Quando comprei minha patente de coronel do estado, tive que fazer um trato com o Maledito, então agora eu sou o representante dele aqui e se você tem parte com ele, acho bom criar jeito, porque não quero concorrência, anda direito obedeça tua mãe ou vai se ver comigo, entendido?
- Sim senhor, Coronel eu, eu, eu...
- Desembucha moleque...
- Eu vou criar jeito...
- Bom mesmo, ou tia Nica pensa no Demo e eu apareço.
- Bastião cê que é mais alto, pega estas latas de carne, frango e porco que a Siana mandou e põe na prateleira... Tizil! Pega as garrafas de pinga guarda no armário pro tio Zé e serve um copo pra cada um de nós...
- Zezinho! E Ana e as meninas, como estão?
- Bem tia Nica! Zuleica já no ponto de casar, vou falar com o Coroné Bento da Fazenda do Onça e arranjá um casório prela. A Branca e a Maria, inda são muito novinhas...
- O coroné Bento é homem dus bãos, os filhos devem ser também...
O Zé ta demorando, já passou da hora...
- Tia Nica, quer que eu mande o Tizil e o Bastião atrás dele?
- Carece não, deve tá na venda do Justino tomando um trago. Venham comer que cês devem di tá cansados, depois o Zé come.
- Tizil, Leve as cartucheiras pica-pau e as garruchas de dois canos prás cocheiras e coloque entre o colchão e o estrado e minha espingarda Winchester em pé ao lado da minha cama.
- Sim sor Coroné! E o revólver do senhor?
- Este shimitão fica comigo o tempo todo. Vai, vai, vai logo que tô com fome.
Lembro como se fosse hoje... Homem baixinho, gordo, barbudo e grisalho, terno de linho branco, camisa branca, colete bege com relógio de ouro e corrente no bolso, cinto de couro cru com algibeira de um lado e coldre com revolver do outro lado, chicote de rabo de tatu e botas pretas até a altura dos joelhos.
Homem bom, justo, honesto, trabalhador e bravo, andava apenas com estes dois jagunços, o que não era normal prá aquelas bandas, uns diziam que tinha jagunços escondido no mato, nas pousadas, mas ele dizia que tinha parte com o Demo e estes dois peões eram filhos legítimos dele e que o Capeta os tinha enviado para aprender a resolver as coisas com o Coroné.
Minha vó serviu o jantar, o Coronel pôs primeiro, o Bastião depois e por último o Tizil e isto demonstrava a hierarquia entre eles. Minha vó pegou as travessas e abasteceu com mais comida, o Coronel comia com garfo e faca e os outros com as mãos e colher.
Nem mastigavam direito de tão apressados que estavam, minha vó serviu os dois mais uma vez, agradeceram, abaixaram a cabeça e comiam numa pressa de dar dó! Quando estavam quase terminando a segunda pratada, escuto:
- Estou satisfeito e meus companheiros também! Vão dormir! Vou pitar meu cachimbo e prosear um pouco com o tio Zé que tá chegando...
- Bas noite tia Nica e Garoto...
- Bas noite Tizil e Bastião
- Coronel, deixa eles acabarem de comer!
- Cala boca menino, só fale com o Coronel quando ele perguntar...
- Pó deixar tia Nica, cê tamem cace teu rumo e vá dormir, moleque...
Fui dormir, até minha vó, tia do coronel, o respeitava... Às vezes lembro do Coronel e seus jagunços:
“Estou satisfeito e meus companheiros também!”
- Tia Nica! Bas noite! Sua benção!Tem pouso para nós? Bradou de cima de seu cavalo Árabe preto como carvão, o Coronel Jose Alves.
- Deus te bençoi! Tem sim Zezin! Apeia e achegue-se, manda dar água aos animais, que devem ter sede e fome. No fundo tem as cocheiras, depois vão se lavar e venham comer...
- Tizil, ouviu tia Nica? Vai com o Bastião levar os animais pro trato na cocheira, depois se lavem e venham comer!
- Sim sor Coroné!
- Tia Nica, de quem é esse moleque? Tem uma cara de danado! Se for mesmo, vou levar pra fazenda pra endireitar o bicho.
- É meu neto filho da Miriam, minha caçula. Levado da breca, até parece que tem parte com o Demo...
- Moleque, vem cá! Quando comprei minha patente de coronel do estado, tive que fazer um trato com o Maledito, então agora eu sou o representante dele aqui e se você tem parte com ele, acho bom criar jeito, porque não quero concorrência, anda direito obedeça tua mãe ou vai se ver comigo, entendido?
- Sim senhor, Coronel eu, eu, eu...
- Desembucha moleque...
- Eu vou criar jeito...
- Bom mesmo, ou tia Nica pensa no Demo e eu apareço.
- Bastião cê que é mais alto, pega estas latas de carne, frango e porco que a Siana mandou e põe na prateleira... Tizil! Pega as garrafas de pinga guarda no armário pro tio Zé e serve um copo pra cada um de nós...
- Zezinho! E Ana e as meninas, como estão?
- Bem tia Nica! Zuleica já no ponto de casar, vou falar com o Coroné Bento da Fazenda do Onça e arranjá um casório prela. A Branca e a Maria, inda são muito novinhas...
- O coroné Bento é homem dus bãos, os filhos devem ser também...
O Zé ta demorando, já passou da hora...
- Tia Nica, quer que eu mande o Tizil e o Bastião atrás dele?
- Carece não, deve tá na venda do Justino tomando um trago. Venham comer que cês devem di tá cansados, depois o Zé come.
- Tizil, Leve as cartucheiras pica-pau e as garruchas de dois canos prás cocheiras e coloque entre o colchão e o estrado e minha espingarda Winchester em pé ao lado da minha cama.
- Sim sor Coroné! E o revólver do senhor?
- Este shimitão fica comigo o tempo todo. Vai, vai, vai logo que tô com fome.
Lembro como se fosse hoje... Homem baixinho, gordo, barbudo e grisalho, terno de linho branco, camisa branca, colete bege com relógio de ouro e corrente no bolso, cinto de couro cru com algibeira de um lado e coldre com revolver do outro lado, chicote de rabo de tatu e botas pretas até a altura dos joelhos.
Homem bom, justo, honesto, trabalhador e bravo, andava apenas com estes dois jagunços, o que não era normal prá aquelas bandas, uns diziam que tinha jagunços escondido no mato, nas pousadas, mas ele dizia que tinha parte com o Demo e estes dois peões eram filhos legítimos dele e que o Capeta os tinha enviado para aprender a resolver as coisas com o Coroné.
Minha vó serviu o jantar, o Coronel pôs primeiro, o Bastião depois e por último o Tizil e isto demonstrava a hierarquia entre eles. Minha vó pegou as travessas e abasteceu com mais comida, o Coronel comia com garfo e faca e os outros com as mãos e colher.
Nem mastigavam direito de tão apressados que estavam, minha vó serviu os dois mais uma vez, agradeceram, abaixaram a cabeça e comiam numa pressa de dar dó! Quando estavam quase terminando a segunda pratada, escuto:
- Estou satisfeito e meus companheiros também! Vão dormir! Vou pitar meu cachimbo e prosear um pouco com o tio Zé que tá chegando...
- Bas noite tia Nica e Garoto...
- Bas noite Tizil e Bastião
- Coronel, deixa eles acabarem de comer!
- Cala boca menino, só fale com o Coronel quando ele perguntar...
- Pó deixar tia Nica, cê tamem cace teu rumo e vá dormir, moleque...
Fui dormir, até minha vó, tia do coronel, o respeitava... Às vezes lembro do Coronel e seus jagunços:
“Estou satisfeito e meus companheiros também!”