CORAGEM HOMEM!
Havia lá para as bandas de Campo Belo, uma cidade do interior de Minas, um sujeito conhecido como Zé Romão e que se gabava muito da sua valentia. Ele dizia:
_ Eu mato a cobra e mostro o pau, estico o seu couro no varal e pra provar que tenho medo não, penduro o chocalho dela no meu cordão.
E assim era mesmo, todos sabiam quando Zé Romão vinha chegando porque vinha acusado pelo sacolejo dos chocalhos. Este horrível colar aliado a uma cara sisuda e um enorme facão que, parece ter nascido com ele pregado à cintura, intimidava as pessoas. Ninguém o enfrentava e se aproveitava bem disso em seu benefício.
Até que certo dia chegou à cidade, com intenção de firmar morada, um coronel muito rico, e poderoso porque tinha em seu mando muitos jagunços. E não é que a filha dele deu de encontro com Zé Romão na pracinha da Igreja e foi logo exclamando:
_ Êta mundo pequeno, você por aqui seu cabra da peste!
Nossa! Foi um alvoroço só. Como podia ser aquilo, a filha do coronel conhecia Zé Romão? Esta notícia criou corpo e saiu correndo, foi de orelha em orelha que num instantinho todo povo da cidade desembestou lá pra praça, a fim de tomar posse do acontecido. Foi aí que Zé Romão teve que explicar-se, e sua explicação ficou tão famosa que até hoje é contada em verso e em prosa. Assim ele se justificou:
Havia em Vila Velha
A moça mais linda
Todo dia eu sonhava com ela
E nos sonhos me vinha bem vinda
O pai era fazendeiro
Homem rico abastado
Eu era só um tropeiro
Apenas um pobre coitado
Mas estava enamorado
E o juízo se perdeu
Fiquei mesmo apoquentado
Pra ser ela mais eu
Comecei a vigiar
Os lugares que passava
Meus olhos só sabiam olhar
A morena que eu amava
Mas desconfiou o coronel
E mandou o jagunço me pegar
E ajeitando o seu chapéu
Começou a me falar
Você tá se enrabichando
Pra filha que é do meu coração
Mas pra mostrar que sou humano
Vou lhe dar uma opção
Você vai ter que amansar
Meu cavalo mais arisco
E se não quiser montar
Porque tem medo do risco
Então some da minha frente
Vai de reto e ligeiro
Porque já matei bicho e parente
Que diria de um tropeiro
Altivo agradeci-lhe a oportunidade
Mas fui-me embora apressado
Melhor que morrer na mocidade
É poder se lembrar do passado.