Mesmo quando acaba o perfume,

o zeloso frasco ainda guarda

por muito tempo o cheiro

 

As lembranças da fazenda Campo Grande ficaram gravadas como inscrições rupestres nos anéis da memória de Corina: o casario, o gado espalhado na pastagem, e a aurora chegando no leite mugido pelo vaqueiro na casinha de curral. Mineira de parto, gerada e crescida nos Gerais de Minas, quando morreu o marido, Corina mudou-se para o Rio de Janeiro, com Dulcineia ainda nos cueiros, e Chananaa mamelucade doze anos que pegara ainda pequena para criar.

A viúva arrumou as malas de couro cru, pôs em cada bruaca um pouco de goma, farinha e carne seca.   Vendeu tudo que tinha: porco, galo, pavão, peru e galinhas; cavalos, ovinos e todo o rebanho de gado vacum.  Vendeu também por pouco dinheiro a coleção de livros que Cláudio tinha e a fazenda que cobria grande parte do chão banhado pelos rios Juramento e Saracura, que vai do baixio de Campo Grande às partes altas das Sete Passagens. Escondeu na matula o dinheiro apurado  e tomou o trem na estação de Montes Claros com destino ao Rio de Janeiro.  Na cidade grande, Corina nem cogitou Copacabana ou Ipanema. Preferiu sonhar verde e morar na Tijuca, que lhe remonta lembranças  de Campo Grande. Saudosas lembranças também ela tinha do coco que Zé cantava a Mirabela e de todas as coisas belas de Minas.  Minas tem poeta, boa cachaça e artistas famosos nascidos naquele chão. Tem Tião Carreiro, ZÉ Coco do Riachão e muitos outros talentos gerados e crescidos na culinária montanhosa de arroz com pequi e tutu de feijão. Em Minas tem Carlos Drummond, João Guimarães e Santos, o  pai da aviação. Foi em Minas que Cláudio Manuel conquistou Corina, a glória que a Vitória da Conquista na Bahia, não lhe ofereceu