NUM DEIXA SÃO PAULO CHEGAR AQUI NÃO
Era início do mês de outubro. Agitado. Os assalariados comprando ou pagando contas. Os políticos infernizavam ainda mais com aqueles sons ambulantes, torrando dinheiro do povo para se propagarem. Minha pequena cidade, antes tranqüila, mais parecia uma miniatura de metrópole.
Com meu carro na oficina, tive o privilégio de subir a avenida principal a pé. Na minha frente ia um senhor de uns setenta anos. Filho da tradicional família mineira, não entendia nada do que estava acontecendo.
Sempre, quando posso, gosto de andar a pé. Quando se está com o pé no chão, sentimos mais a nossa terra. É a terra que nos fez gente e pra lá que iremos, com certeza.
Voltando ao velho senhor, que, aliás, não era tão velho; já aparentava certa descomodidade com aquele movimento, que para ele, não tinha sentido nenhum. Subiu a avenida esbravejando. Quando chegou numa rotatória, coisa de maluco para ele, ficou sem saber como fazia para atravessar. Como ele achava que aqueles carros eram todos iguais; se posicionou atrás de um e ficou rodando, rodando...
Nessa hora a avenida travou porque subia uma carreata da situação e descia outra carreata do candidato a prefeito pela oposição. Todos com promessas de desenvolvimento, fábricas e mais fábricas, presídio de segurança máxima...
O agora, já “meu velho”, no meio da rotatória, como ser de outro planeta. Passa um moto-boy, querendo ganhar alguns segundos de sua minúscula vida e atropela o homem. Antes que aluísse pra socorrer, chegaram os dois candidatos. Cada um segurando numa das mãos, escutaram:
“Num deixa São Paulo chegar aqui não!!!!!!”
JOSÉ EDUARDO ANTUNES