Aileen
Como sempre, era uma noite qualquer. Queria flertar um novo personagem. Na realidade, alguém que preenchesse um vazio desconsiderado, que me transportasse para o lado de fora da realidade. E aquela alguém me arrebatou.
Minha história moldada por concepções ortodoxas e por um espírito revolucionário, havia se encontrado com sua história contada de modo cruel, desumano e quase que irreparável, mas, sobretudo, fidedigna.
O término daquela narrativa foi uma morte sem dor, que serviu como um gesto de misericórdia à sua alma que, há muito, já vagava por um inferno qualquer.
A vida e a morte da prostituta deslocou meu sonho para um universo onde nada me é conhecido, nada além de uma aflição por nada saber. Uma penumbra que me persegue nos confins do pensamento.
O que me resta é a convicção de que a morte é irreparável. O que daquela vida sobrou é um ensino do quanto a civilização é capaz de parir monstros, e do quanto não sabemos nada, absolutamente nada, da forma com que as circunstâncias amoldam as horrendas possibilidades da mente.