Simpatias de Ano Novo
Simpatias de Ano Novo
Maju Guerra
O ano de 2011 havia sido caótico para Malu: desemprego, separação, desavenças, brigas pela guarda dos filhos e partilha de bens... Beirando o desespero, ela decidiu que, na entrada de 2012, faria todas as simpatias que lhe indicaram: buscava amor, saúde, paz e sorte. A amiga Selminha, por experiência própria, garantiu que funcionavam. Desligada como sempre, esqueceu-se de avisar à Malu que não precisava escolher todas elas.
À meia-noite, a moça deveria: queimar um papel branco preenchido com tudo aquilo que não desejava mais em sua vida no novo ano, e jogar as cinzas na água corrente; acender uma vela amarela e um incenso de eucalipto, na entrada da casa; tomar um banho com as pétalas de três rosas brancas e alfazema; comer lentilha, sete uvas verdes e duas sementes de romã, jogar uma delas pela janela, por cima do ombro direito, e guardar a outra na carteira; colocar uma nota de R$ 10,00 no sapato do pé direito, e pular sete vezes em um pé só; usar um sutiã branco novo com uma fita vermelha amarrada; colocar no pescoço um lenço azul e prateado, além de vestir uma calcinha amarela nova.
Às onze horas da noite, ela colocou no papel tudo o que queria se livrar em 2012. Foi trabalhoso, quarenta e cinco minutos depois, ela se deu por satisfeita. Preparou o banho, pôs na mesa o prato com a lentilha, as sete uvas verdes e as duas sementes de romã. Quando o relógio começou a soar as doze badaladas, ela acendeu a vela e o incenso, comeu a lentilha, as sementes da romã, e cumpriu o ritual. Em seguida, queimou o papel e jogou as cinzas na pia com a torneira aberta. Enquanto tomava o banho de rosas e alfazema, devorava as sete uvas. Acabado o banho, vestiu a calcinha, o sutiã, colocou o lenço no pescoço e calçou o sapato. O relógio cumprindo o seu papel. Atrapalhou-se ao dar os pulos, escorregou, caiu e torceu o pé, uma dor terrível. Começou a gritar, Selminha a acudiu. Vestiu qualquer vestido, foi carregada para a emergência do hospital.
Dr. Miguel, o médico de plantão, prontamente a atendeu. Ao saber do ocorrido, sorriu e se encantou com o brilho da Malu. Deu seu telefone pra ela.
A moça, morta de sem graça, passou dias pensando se telefonava ou não. Por fim, telefonou e marcaram um jantar. Continuaram a se encontrar, a paixão e o amor desabrocharam. O casamento da Malu com o Miguel aconteceu no ano novo passado.
Segundo a Selminha, o importante é que as simpatias deram certo. Se a Malu agiu corretamente ao fazer todas de uma só vez, é outra história. O destino é uma figura misteriosa.
Maria Julia Guerra.
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