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E O MUNDO NÃO ACABOU
E O MUNDO NÃO ACABOU
O Natal se aproximava e os preparativos todos prontos para o grande dia. O peru na geladeira, champanhe, vinho, frutas e tudo o que imaginar para uma mesa farta. Podia-se dizer, um Natal de rico. Janjão como era conhecido, fazia questão que enfeitassem e ele mesmo instalava os pisca-piscas em toda a residência. Era a mais iluminada da cidade. Em épocas de fins de ano, sua casa destacava-se de todas as demais, porque era uma cidade pequena. Dia dezoito de dezembro de dois mil e doze, numa terça-feira alguns meninos brincavam na rua. Dois deles passaram gritando, um de um lado e o outro do outro: “O mundo vai acabar no dia vinte e um. O mundo vai acabar no dia vinte e um. Faltam apenas três dias. O mundo vai... “
Dona Zinha ficou perturbada. Começou a chorar. De repente quando viu, seu marido Janjão tremia tanto que quase batia com um joelho no outro. Os filhos Joãozinho e Luizinho começaram a rir.
- Ei papai. Parece que o senhor ainda acredita em Papai Noel? Larga de ser medroso! Acaba coisa nenhuma! – Falou Luizinho dando risadas.
- Para com isso piá. Mais uma “tiração de sarros” vou te surrar com a cinta. - Responde o pai.
- Eu sei que o mundo já acabou para o meu avô José e pra vovó Isa. – Disse Maria, a filha mais velha enquanto abraçava o seu noivo.
- Por que estás a dizer isso, filha?
- Mamãe, eles já morreram e o mundo acaba pra quem já...
- Deixe de falar besteiras. Todos vão ter que me obedecer. Enquanto eu for vivo, quem manda aqui sou eu. Está determinado por mim. – Falava o “poderoso chefão” batendo no peito. A nossa ceia vai ser no dia vinte. Acredito que o mundo terá um fim, e vamos fazer isso um dia antes.
- Assim vamos morrer junto com o peru. – Falou o genro sarcástico.
- Não meu amor. Vamos morrer alguns dias depois, porque o peru já está morto há mais de um mês. – Riu a menina.
- Vamos sair para os nossos afazeres. No dia vinte será a nossa ceia de Natal. Vamos cear no comecinho da noite. Acho que vai ser a última. Hoje compramos os presentes de amigos secretos.
Como ninguém mais poderia questionar, no dia vinte, às dezenove horas iniciou a famosa ceia. Alguns com muito medo. Outros riam e falavam piadas. Por causa da notícia que o mundo iria acabar, foi mudado toda a programação tradicional da família.
Chegou a sexta-feira dia vinte e um. Algumas pessoas olhavam no relógio pensativas. Outras ligavam para os amigos e parentes. Outras trocavam mensagens nos celulares e emails. Terminou o dia. Veio a noite com a sua lua de quarto crescente como eterna parceira dos poetas...
Dia vinte e dois correu tudo normal. Vinte e três...
No dia seguinte à véspera de Natal, Janjão sem falar nada pra família, pegou uma escada e tirou todos os pisca-piscas da casa. Retirou os enfeites do pinheirinho. Jogou a árvore no lixo, mas a esposa a apanhou de volta. Colocou todos pra dentro da residência. Até o futuro genro teve que “entrar na dança”. Aproveitou para fazer uma reunião familiar. Começou o discurso:
- Quero falar pouco, mas ser verdadeiro. A partir de hoje não vou mais acreditar em balelas e lorotas. Bem que minha falecida mãe nos ensinava que o dia do fim ninguém sabe, nem os anjos no Céu. Vai ser tão de repente que ninguém vai estar esperando. Se alguém falar que vai acontecer uma tragédia no Planeta, vamos esperar pra ver. Não vou mais sofrer por antecipação. Peço desculpas a todos por ter acreditado nessa besteira...
Terminou a reunião com uma oração agradecendo pela vida. No final todos em uníssono rezaram o Pai Nosso.
(Christiano Nunes)