O dia em que dos seus lábios fugiu a vida
Houve um dia em que seus passos deixaram de ser dados. Petrificou-se.
Houve um dia em que suas mãos encolheram-se para poder esconder em seus pulsos as cicatrizes de quem já desistira de viver. Para esconder debaixo da roupa as marcas de quem vem de longe, trazendo no corpo estampada a sua história. Alguém marcado pela vida.
Houve um dia em que suas janelas foram fechadas, suas portas trancadas e os porta-retratos foram emborcados. Cartas foram queimadas, lembranças mandadas embora, promessas quebradas sem nenhum pudor. Houve um dia em que até o resquício do que existira, partiu.
Houve um dia em que ela ficou só, sem nada.
Sem ninguém.
Houve um dia em que as cores desbotaram. As flores murcharam.
Tudo pareceu acinzentar.
O dia se foi e a noite eternizou-se dentro dela.
Houve um dia em que o sorriso dos seus lábios foi selado.
A vida fugiu dos seus olhos ao encontrarem ele fechados. O brilho ofuscou e a escuridão se intensificou.
Houve um dia em que o céu perdera mais uma estrela, quando de seus lábios ouvira o último suspiro.
Um último fôlego de vida.
Houve um dia em que tudo se calou. O silêncio agarrou-se a dor e sua vida foi interrompida. Silenciada diante da porta que a levaria do seu mundo sombrio para um mundo mais colorido, onde as cores não desbotariam. Onde ela jamais seria esquecida.