O cão - In-contos d'minutos - Vol. I - Causos Caipiras
Jorge saíra de manhã montado em seu alazão, seguia ele rumo a cidade distantemente longe do sitiozinho em que morava, acompanhado de seu fiel amigo, o cão feliz ladrava, latindo alegre como a conversar com o seu dono. Jorge é aquele caipira feliz de sua simplicidade, ingenuidade campesina; amava suas plantações e criações, principalmente, aquele seu amigo fiel - verdadeiro ajudante nas lides diárias - auxiliava-o no apartamento dos gado; reunia-os e os conduzia ao pasto, levando-os depoismente para a mangueira onde pernoitavam.
Cão de uma inteligência sem igual, de olhar terno, amoroso para o dono de igual amar o cão. Jorge o vira crescer, sempre, como o companheiro ideal; das labutas de todos os dias. Companheiros inseparáveis; o cão só faltava falar.
Jorge a caminho da cidade tinha como objetivo pagar as contas da mercearia, acompanhado pelo cão alegre, saltitante, latindo conversas
que somente Jorge compreendia e respondia. Um fazia companhia ao
outro. Jorge amava aquele cão como verdadeiro membro da família.
A estrada seguida por Jorge , ora era ladeada por matas densas, terra
de chão batido, ora era, apenasmente, um trilhozinho feito pelos próprios animais que por ali passavam. Sol a pino, ele, vezmente, ajei-
tava o chapéu, carecendo de mais sombra; o suor a escorrer pelo ros-
to, as vezes que sempre, entrava nos olhos ardendo feito pimenta.
Já próximo a cidade, o cão começa a agir estranhamente: late e pula na dianteira do alazão como querendo avançar e morder; abanando o
rabo, rosnando, latindo alto parecendo querer impedir o prosseguimento da viagem. Jorge se preocupa com o comportamento estranho do seu sempre fiel amigo e reflete:
- O que deu nesse cão ???. Será que foi mordido por cobra ???. Ele
nunca foi agressivo. Será que de uma hora para outra ele enlouque-
ceu ???.
Nestas reflexões Jorge tentava desviar-se do cão e prosseguir viagem,
mas ele estava por demais teimoso e o atrasava na viagem. Pensou
Jorge:
- De fato, enlouqueceu, meu pobre amigo. Não vou deixá-lo sofrendo.
É injusto. Ele, meu companheiro de toda uma vida, não pode sofrer assim - e com lágrimas nos olhos, pegou do revólver que sempre carregava consigo - Deus me ajude e me perdoe. Eu amo este cão demais.
Com o revólver em punho, mirou no cão e atirou.O som do disparo cobriu o grito de dor de Jorge e o ganido triste do cão como a dizer :
- Por que ???. Por que me mataste ???. Sempre fui leal e amigo e é isso que recebo ???.
O cão arrastando-se saiu da frente do alazão ganindo uma dor intensa que cortava como uma navalha os corações mais sensíveis.
Estranhou Jorge ao ver o cão arrastar-se em caminho contrário, caminho pelo qual tinham vindo antes. Pensou Jorge:
- Vai, meu amigo !!. Procura um lugar quieto e sereno para a sua última morada. Nunca esquecerei você.
Lágrimas banhando-lhe o rosto a misturar com o suor fazia-o chorar mais ainda. Continou a cavalgar e, jamente próximamente à cidade, levou a mão à cintura onde a guaiaca de couro de cabra devia estar. O
dinheiro para pagar as contas na guaiaca estava, contudo Jorge sofreu um abalo de grande grandemente ao constatar que a guaiaca não esta-
va mais ali.O desespero avizinhou-se, avolumou-se e, logo o dominou.
- Perdi a guaiaca. E agora ???. Como pagar as contas ???.
Olhou, novamente a cintura, posmente olhou o chão...e nada. Decidiu
voltar pelo mesmo caminho a ver se achava a guaiaca perdida. Deses-
perado voltou pisando os mesmos passos da ida e lá no longe avistou o
seu fiel amigo: o cão estava deitado no chão. Correu para lá e chegando, percebeu que o cão não mais vivia. Desmontou, chegou perto e curioso percebeu haver alguma coisa embaixo da cabeça do cão morto. Era senão a velha guaiaca de couro de cabra.