O ESPERTO E O FIM DO MUNDO

Um homem prevenido vale por dois.

Hoje resolvi prestar uma homenagem. O homenageado um Contador de "Causos". Ou um escritor de "Causos". Trata-se de João Chysostomo Giannasi, autor da obra: HISTÓRIAS QUE VIVI... E OUTRAS QUE ME CONTARAM. Quando li seu livro percebi que havia encontrado meu grande Mestre. Embora muito distante de seu talento, me encorajei a ser chamado de seu colega. E aqui, peço sua licença, Joãozinho, não de transcrever, mas de recontar, alguns de seus "Causos", para que ninguém ouse comparar este humilde discípulo a seu Mestre.

Joaquim Xavier, "Joaquim das Moças", como era conhecido, era um tipo folclórico em Conceição do Monte Alegre. Olhando superficialmente poder-se-ia dizer que era um caipira autêntico. Chapeuzinho de palha, sempre descalço, um saco nas costas com alguma coisa dentro, que, para as crianças, se revestia de grande mistério. Gostava muito de conversar com elas ( porque talvez eram as únicas pessoas que lhe davam crédito). Os meninos o enchiam de perguntas porque as respostas eram sempre repletas de fantasias, prato predileto das crianças. Falava do sol, do arco íris, das estrelas, do tempo e de todo o universo que povoa a cabeça dos pequenos. Embora filho de sitiantes, de família numerosa, que vivia do trabalho na roça com conforto peculiar, havia muita fartura. "Joaquim das Moças" pouco parava em casa. Sempre a pé, não fazia falta em Cardoso de Almeida, Roseta e cercanias. Fazia âncora em Conceição. Não era ave de vôo curto. Pra ter seu próprio "dinheirinho", costumava limpar quintais. Não era pra comprar comida. Era como passarinho, por onde passava comia. Um dos produtos por ele preferido, para aumentar sua renda, era a venda de poucas ervas medicinais e uma raiz, por ele chamada de "Mamica de Cadela", que servia para perfumar a fumaça dos cigarros de palhas. Quando pegava encomenda de algum cliente, riscava no chão com o dedão do pé direito, o tamanho do produto que iria entregar. Tudo isso era retirado do Cerrado. Quando trabalhava valorizava muito sua obra: "Tô carpino brejo. Preciso de sor". Dizia ele que o pedido já havia sido comunicado ao Criador, com quem mantinha uma certa intimidade. E que nada acontecia sem que antes o Todo Poderoso lhe comunicasse.

(Trascrição) "Certa ocasião, pouco depois do final da Segunda Guerra Mundial, surgiu um boato, divulgado por alguns jornais sensacionalistas e também divulgado pela boca do povo: o mundo iria acabar num dia próximo.

Na véspera do dia fatídico, o Joaquim limpava o quintal de uma residência. À tarde, Seu João, oficial do Cartório de Conceição e proprietário da residência, perguntou-lhe se viria trabalhar no dia seguinte, o esperado fim do mundo. Respondeu afirmativamente, acrescentando que não acreditava nessas bobagens, que ninguém, além dele, seria capaz de prever o fim do mundo. Se isso realmente fosse acontecer, Deus já lhe teria comunicado.

No dia seguinte, de manhãzinha, lá estava o Joaquim das Moças naquele quintal consertando a cerca da horta. Pelas dez horas, ele foi ao Cartório e disse:

-- Seu João estive pensando bem e resolvi: hoje não vou trabalhar mais. Vou pra casa ficar com minha mãe. Eu não acredito que o mundo vai acabar, mas, se essa coisa acontecer, não quero ser pego sozinho, longe de minha família. Além do mais, acabando o mundo, minha mãe ia ficar muito triste se eu estivesse longe dela na hora de entrar no Paraíso"(J.C.G.) -- (Oldack/26/05/010). Tel. (018) 33621477.X

Oldack Mendes
Enviado por Oldack Mendes em 16/12/2012
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