O CAIPIRA

Seu Totonho um humilde camponês que lavrava a terra com maestria, vivia sempre anêmico, num terrível amarelão, lumbriguento desde a infância, tendo muitas vezes vertigem por ataque de lumbrigas ou bichas, assim diziam. Isso sempre ocorria quando ficava com vontade de comer alguma bobagem, como por exemplo, quando via algum coleguinha comendo doce de leite ou outro doce, ou até alguma comida diferente na casa de alguém e não lhe davam. Pedir nem pensar, pois era muito vergonhoso, além de que tinha de medo da mãe brigar se ficasse sabendo, pois recebera uma educação muito rígida, pedir sua mãe sabia que não adiantava, pois não tinha condições de lhe dar o petisco desejado. Assim guardava pra si em segredo e ficava só na vontade e em consequência as bichas atacavam.

De tempos em tempos, tomava comprimidos pra matar as bichas, sempre na lua minguante, lua própria pra tomar lombrigueiro. Assim de madrugada, em jejum tomava meia dúzia de comprimidos de Ankilostomina Fontora, depois de um determinado tempo, tomava um purgante de sal amargo pra fazer o efeito necessário, só depois de algumas horas após terminar de evacuar, tomava uma sopa leve, nada de alimento pesado.

Depois de uns dois dias que havia tomado o lumbrigueiro, começava tomar um fortificante de Biotômico Fontoura pra recuperar as forças.

Apesar do físico raquítico, seu Totonho era muito habilidoso com a enxada e ouras ferramentas, como também na colheita de café, algodão e amendoim. Com sua calça de arranca-toco, assim era chamado o tecido, toda cheia de remendos, a camisa de saco de açúcar, tingida com anilina azul, ou outra cor, os pés sempre descalços, só calçava as paragatas pra sair aos domingos, para ir à missa ou ver o futebol no campo próximo à sede da fazenda.

Era um homem muito trabalhador, às vezes de empreita, às vezes na diária, mas ganhava muito pouco dava mal pra comer e na maioria das vezes sem mistura.

O lucro de seu trabalho era todo dos patrões, mas ele acreditava que tudo era a vontade de Deus, por isso nunca reclamava, até mesmo muito pouco falava, no seu falar caipira, com seus “ués” e o “r” destacado típico do sertanejo paulista.

Seu Totonho, trabalhando de sol a sol, com seu chapéu de palha na cabeça, mal vestido e pés descalço, era o verdadeiro Jeca Taru.

CEZARIO PARDO
Enviado por CEZARIO PARDO em 14/12/2012
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