CABOCLO D'ÁGUA

Dicido moiá minhoca, antão fui batê anzóle... mai -dessa vêiz eu fui suzin!

Eu tava amolado da companhia duns -amigo meu, du-ti-pescadozin piqueno, e num quiria carquer-um mi acumpanhano não.

Vara na mão, lata di minhoca e lá va-i-eu pru corguin.

Nu camin topêi cum homizin piquininin, baxotizin, munto istranho; Oiêi patrais discunfiado da mão e ê-tava mi-oiano... Daí a pôco cumeçô mi acumpanhá di longe iguarzin um cachurrin prus -canto da istrada. Azucrinado, antão pensei: será uquê esse cabucrin tá quereno?

Será quele vai ficá grudado ni-mim?!

Condo eu oiava, ele parava... Tornava andá, ele mi acumpanhava traveiz... Pensei jogá nele uma pedra, mais deixei pra lá... e fui simbora.

Cheguei na berada du rio, dicoquei nu carcanhá, e tô ali inrolano um pito - e u pantasma vêi-vino inté apariá du lado sem falá um “A”; Ficô mi-oiano cum rabo di zoi amoitano a carinha di sem-vergonha; A hora quieu oiava pr’ele, ele virava u fucin... Já cumecei ficá di duda ca-aquilo. Passei a mão num pedaço di bambú, peguei um terrão bão e puis perto di mim, pensei: S’êle quisé uma marquerença quarquer ieu como ele nu bambú!!!

Tirei as traia du imborná, puis a minhoca nu anzór, juguei n’agua e cumecei pescá; Deu quitava prestano pra –pegá, diveiz incondo pinicava e eu levantava um lambarizin e já jogava nu borná.

E, o pestelento du “trocin” di butuca num falava nada - agachado e iscorado na munheca fico. Mais’eu via condele mi-oiava dispistado e trucia u pescoço dibanda.

Passô uma hora e meia e u cabucrin acocorado só mi-oiano sem dá um pio; Passô 3 horas e u danisco só zoiano.

Já nu finarzin du dia, cumeçano iscurecer, eu mei-qui assombrado ca-quilo, dei na têia di oferecê uma varinha das mais -fina pr’ele inhantes qui u breu na noite butucasse:

Ôh mininim, qué pescá um cadim?

E u cabucrin respondeu:

- Deus mi livre moço, tem paciênça não sô!

Condele falô ansim eu trimi e arripiei u cabelo da cabeça inté u chapéu balangô.

Num têm paciêeeença, diquê, di pescá?

... e o qui-ocê ta fazeno aqui antão esse tempão mi-oiano? - Falei batido qu’ele!!!

Ele garrô e virô a carinha di sem-vergonha traveiz, e num mi -oiava purreza braba ninhuma.

Raaapaaiiz!!!

Mais num é quesse mulequin raiô cumigo! Levantô donde tava agachado e rancô du borná um chaproca di facão inté lumiano e foi falano na maió artura cum voiz di taquara rachada, inté subiano:

- Eu sô protetô di pescadô e guardadô dus-rioooo!

E já foi pulano pra bandicima dum barranquin... Sartava dum lado pru otro sem pará, quiném saci-pererê.

Na méma hora mivêi nas -idéia: - Aaaah.... Isso é sombração!

Eu peguei um terrão e joguei nele... Ele arredô ligêro e pulô patrais dum ôtro barranquin;

Eu mais qui dipressa - mão nu bambú, e gritei:

É mió cê num vim cá onde eu tô não, eu tô airmado!

Nesta hora u apareio du intistino disarranjô di tanto medo quiotava daquele troçin isquisito: Ele era baxin, piludin, umas-zunha puntuda, e a cara dele parecia um home com munta fome.

Ele oiô pra mim e eu pr’ele, nos aprofundemo nu oiá, ai ele feiz uma cara mais fêia ainda - arrisurvi incará ele tamém nu branco du zói... Foi nessa hora quieu vi u erro qui cumití - ele partiu parriba dimim dinhuma vêiz.

Num teve ôtro jeito, nos agarramo e foi uma luita medonha naquele brejão sem fim.

Nu cumeço da briga ele tava levano a mió, além di mi dirrubá du barranquin, onde travemo a luita, ainda mim insurtô fazeno mizura pr’eu. Arripiado, pariêi dibaxo du subaquin dele, garrêi nu seu piscucin e já dei um solavanco, um gorpe certêro, e lancei ele na fundura du rio.

Dususperado cum -aquela narquia e fragelo gritei: Aí -quié seu lugá cabucrin d’agua - demôno!!!

Inté parece mintira mais é a pura verdade, a hora quele bateu n’água cumeçô mi gritá pru-nome - ai falei ansim, cumigo mémo:

Agora danô tudo! Cumé quiocê sabe meu nome bichin?

Ai ele debateno n’água falô:

- Ieu num sei nadá não mandruvachá... Hannn, num sabe - ocê num é u cabucrin d’agua, veíaco!?

Ritruquei na cara dura!!!

- Não mandruvachá, ieu sô u tunin!

Mais uquê, u tunin trêis cruzêro? – Priguntei.

– Éh, é -ieu mêz!!!

Mais cumé-qui-pode Tunin, ocê num gosta d’agua, uê!?

Foi nesta ocasião qui discubri quiquém virava cabucrin d’agua era Tunin 3 cruzêro - amigo du Padre.

OUÇA TAMBÉM AQUI ESTE CONTO - INTERPRETAÇÃO NO DIALETO MINEIRÊS, abra o link abaixo:

http://www.recantodasletras.com.br/audios/contos/55391

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 14/12/2012
Reeditado em 16/12/2014
Código do texto: T4035807
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