O VELÓRIO


- Não acredito no que está me dizendo.

- Sim senhora, é a mais pura verdade, se quiser tirar a prova pode ir a senhora mesmo olhar.

- Muita audácia mesmo, cara de pau essa. Tá pensando que vai chegar pelo menos perto do caixão? Coitada dela...

       Afastou-se o caixão do marido e dirigiu-se a porta de saída, olhou para a rua e viu que ali se encontravam muitas pessoas que vieram para velar o corpo e sentada na calçada do outro lado da residência a mulher que a impedira de ser feliz.

     Dona Laura foi casada com aquele salafrário durante 30 anos e até mesmo naquele dia em que era obrigada a perdoar todas as decepções que lhe causara durante tantos anos teria que engolir mais aquele sapo.

      A desculpa que dava por não mandar aquele mundano pro olho da rua eram os filhos, Criada por pais conservadores sentia-se pressionada a ter que suportar todas as traições vindas do marido sem nada dizer, criar filhos sem pai seria difícil, o que iriam falar de uma mulher separada e outras coisas mais. Sua vontade mesmo era de expulsá-lo mas sem antes retribui-lhe a desfeita com um par de chifres bem grandes. Mas por tanto adiar tal decisão acabou por não fazer.

        Morreu o infeliz...

     Voltou e prostrou-se ao lado do defunto sem que nada a convencesse de sair pra respirar outros ares, descansar ou se alimentar.

       A noite foi longa e cansativa, mas nada na vida a fizera sentir tanto prazer, o gostinho da vingança era doce como mel e teria sido ainda melhor se a outra tivesse a coragem de enfrentá-la, estava disposta a esbofeteá-la até a morte e assim mandá-la junto com o marido pro inferno, mas isso não aconteceu.

    Ficou assim grudada ao defunto até o último momento, quando as correntes rangeram e o caixão foi depositado no fundo da sepultura, coberto pela laje de cimento.

 
Jorgely Alves Feitosa
Enviado por Jorgely Alves Feitosa em 13/12/2012
Reeditado em 19/10/2018
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