A MULTIDÃO E A SOLIDÃO
“... antes só que muito acompanhado...” (Lalau)
Um dia, durante uma das várias excursões que fiz a São Paulo com os formandos da 8.a série do Colégio Euclides da Cunha de Ilha Solteira, um aluno me perguntou: Professor o senhor já parou pra observar a qualidade da limpeza nos corredores dos Shopings? Parar, não parei, mas que é impecável não tenho nenhuma dúvida! Então, se questionar os usuários sobre se os responsáveis pela limpeza são homens ou mulheres, negros ou brancos, gordos ou magros, muito provavelmente nem o Senhor e nem ninguém conseguirá responder... E daí a conversa continuou e ele disse que leu em algum lugar que as pessoas quando estão na multidão, ou vivem nos grandes centros, pouco enxergam ou sabem do que está acontecendo ao seu redor. Embora estejam acompanhados (e muito acompanhados), praticamente estão sozinhos. Muito se parece com (ou então é) um comportamento de manada. Tempos depois refletindo sobre a conversa com aquele jovem, lembrei-me de um “Causo”, narrado não sei por quem, acontecido no Sudoeste do Paraná ( enfim chegou a vez dos Paranaenses). O fato aconteceu num grande frigorífico de aves e suínos. Embora a empresa fosse grande, trabalhava em apenas um turno de 10 horas. Funcionava pontualmente das 7 às 17 horas sem antecipar nem exceder um minuto sequer. Naquele dia, já no final do turno, um funcionário entrou na câmara fria para examinar um detalhe qualquer e a porta se fechou atrás dele . O sistema não dispunha de qualquer dispositivo de segurança que levasse a porta a ser aberta por dentro. Por mais que batesse ninguém percebeu, até por que todos já haviam ido embora. Já no desespero, quase três horas depois e beirando a hipotermia, viu que a porta abriu-se abruptamente. Era o vigilante noturno acompanhado do porteiro. Imediatamente a administração foi comunicada e as providências de socorro foram tomadas. Como sempre acontece em grandes empresas, um processo de investigação foi aberto para apurar os detalhes do acidente. Depois de muitos depoimentos tomados pela administração dos funcionários do setor, chegou a vez dos envolvidos mais próximos. O vigilante noturno e o porteiro. O vigilante declarou que por volta das 20 horas, .chegou ao prédio o porteiro, completamente apavorado, dizendo que o acompanhasse aos locais considerados perigosos (caldeira, casa das máquinas, câmara fria, central elétrica, etc). E na câmara fria o companheiro foi encontrado já quase desfalecido. Chega o momento do depoimento do porteiro. Foi questionado por que sendo ele um funcionário alheio ao funcionamento interno da empresa, teve essa preocupação. Aí ele que, durante o jantar aproveitava para colocar o “papo em dia” com a família, depois de relatar os acontecidos rotineiros de uma grande firma, de repente parou como se tivesse levado um susto. E disse para esposa que iria voltar ao local de trabalho, imediatamente, para confirmar algo que poderia ter acontecido. Inquirido ainda o porquê de tal lembrança ele declarou: Aquele funcionário é o único, entre as centenas dos demais, que me cumprimenta com um simpático sorriso ao chegar pela manhã e repete o ato ao sair à tarde. Nesse dia me lembrei de que ele me cumprimentou ao entrar, mas na hora do jantar, notei que não tinha recebido a saudação da saída. (oldack/21/08/011)X.