Vôo
E eis que no meu primeiro dia de vida
Eu pensei que podia voar
Saltei do mais alto penhasco
E com força comecei os braços balançar
Não foi muito útil
No fim acabei caindo
no buraco que fiz na queda, encontrei uma caverna
E lá um ser, que me olhava sorrindo
Ele levantou de seu canto
e veio logo conversar:
"- Pobre garoto tolo, levante-se, venha cá,
vejo que assim como eu, você também tentou voar."
Curioso, me aproximei
Era um senhor de tantos anos assim
que mesmo sem muitos dentes
insistiu em sorrir pra mim.
Ele me contou que há muito tempo
assim como eu tentou voar
caiu no mesmo buraco onde estávamos agora
e nunca mais pôde escapar.
Sobreviveu pela esperança
de que algum dia viéssem procurá-lo
Mas ninguém nunca veio
e por anos ficou ali abandonado.
Por horas contou-me suas histórias
E por tudo que já passou
Antes que seu desespero o levasse
Ao lugar onde agora estou
E antes de me contar
o motivo pelo qual eu ainda estava vivo
eis que acordo numa cama de hospital
medicado e gravemente ferido
olhei ao meu redor assustado
e em uma cama ao lado da minha eu pude ver
o senhor do meu sonho deitado
imóvel, sem nem um músculo sequer mover.
Tempos depois fiquei sabendo
que suicídio aquele pobre homem tentou
após falhar em tentar salvar a vida
daquela a quem um dia sempre amou
Sua história me lembrou a minha
pois meu amor eu tentei salvar
e ao vê-la morrendo em meus braços
um fim em minha vida eu decidi dar
Agora toda semana eu o visito
na esperança de vê-lo um dia acordado
e ouvir as histórias daquele que assim como eu
desejou um dia ter voado.