Vôo

E eis que no meu primeiro dia de vida

Eu pensei que podia voar

Saltei do mais alto penhasco

E com força comecei os braços balançar

Não foi muito útil

No fim acabei caindo

no buraco que fiz na queda, encontrei uma caverna

E lá um ser, que me olhava sorrindo

Ele levantou de seu canto

e veio logo conversar:

"- Pobre garoto tolo, levante-se, venha cá,

vejo que assim como eu, você também tentou voar."

Curioso, me aproximei

Era um senhor de tantos anos assim

que mesmo sem muitos dentes

insistiu em sorrir pra mim.

Ele me contou que há muito tempo

assim como eu tentou voar

caiu no mesmo buraco onde estávamos agora

e nunca mais pôde escapar.

Sobreviveu pela esperança

de que algum dia viéssem procurá-lo

Mas ninguém nunca veio

e por anos ficou ali abandonado.

Por horas contou-me suas histórias

E por tudo que já passou

Antes que seu desespero o levasse

Ao lugar onde agora estou

E antes de me contar

o motivo pelo qual eu ainda estava vivo

eis que acordo numa cama de hospital

medicado e gravemente ferido

olhei ao meu redor assustado

e em uma cama ao lado da minha eu pude ver

o senhor do meu sonho deitado

imóvel, sem nem um músculo sequer mover.

Tempos depois fiquei sabendo

que suicídio aquele pobre homem tentou

após falhar em tentar salvar a vida

daquela a quem um dia sempre amou

Sua história me lembrou a minha

pois meu amor eu tentei salvar

e ao vê-la morrendo em meus braços

um fim em minha vida eu decidi dar

Agora toda semana eu o visito

na esperança de vê-lo um dia acordado

e ouvir as histórias daquele que assim como eu

desejou um dia ter voado.

Victor Sama
Enviado por Victor Sama em 07/12/2012
Código do texto: T4023787
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