UM GENIO QUE ESCAPOU DO ABORTO (1º CAPIITULO)

Vó porque a senhora sempre se benze quando ouve dizer o nome de coronel Certoro? –Ah Luizinho um dia quando tu crescer a vó vai te contar essa história. Aquele coronel foi muito cruel, e o que avó sente quando ouve dizer o nome dele tem tudo a ver com sua história de vida. Eu só não digo um palavrão quando me refiro a ele, porque entreguei nas mãos de Deus todo o mal que aquele maldito causou a minha família.

Estariam vivos teus pais, não fosse à maldade praticada por aquele homem, que de Certoro só tem o nome, aquilo é o demônio em pessoa. Não vale a pena ficar repetindo o nome dele. --Vó então porque a gente continua morando aqui nesta fazenda, se ela pertence a ele, não seria melhor mudar para uma cidade assim eu posso estudar, queria tanto ter uma profissão, dar uma vida melhor pra sinhora. – Luizinho a fazenda é dele sim, mas quando ele nos expulsou de sua outra fazenda, La daqueles cafundós, ele deu para meu falecido marido teu avô o direito de morar aqui. E como não tínhamos pra onde ir, não nos restou alternativo senão aceitar. De qualquer forma aqui nós vivemos razoavelmente bem, temos as plantações criamos nossos porquinhos, riqueza a gente não tem, mas vivemos bem sem passar dificuldades como muitos passam. E depois querendo ou não você é neto dele também. – Vó a senhora me promete que um dia me conta tudinho como foi que meus pais morreram tão jovens?—Luizinho quantas vezes terei que repetir que na hora certa você terá a verdade? --Ta bem vó eu sei esperar.

Dona Laura era muito querida na região, morava na fazenda cedida ao falecido marido que dedicou a vida inteira de trabalho ao coronel Certoro, latifundiário seu colega desde a infância, que herdara do pai inúmeras fazendas espalhadas naquele sertão sem eira nem beira. Laura além de boa parteira era uma autentica conhecedora da técnica homeopática a qual ela a praticava com muita astúcia, conhecia todos os métodos e o poder da cura utilizando as plantas da flora silvestre naquele imenso sertão.

Seu neto de apenas oito era super inteligente E esperto, que sonhava ser um doutor, freqüentava uma escolinha mantida por um rico latifundiário, no povoado denominado cruzilhas, nome originário do cruzamento das estradas vicinais que mergulhavam sertão adentro em direção aos maiores latifúndios daquelas regiões incultas e quase desabitadas. Os coronéis que viviam mergulhados naquele imenso sertão já sonhavam com a ferrovia ligando cruzilhas ao resto do mundo, promessa de alguns políticos influentes.

Certoro tinha a mesma idade que Antero filho do carreiro da fazenda Rancharia. Velhos companheiros de aventuras. Na juventude estiveram sempre juntos. Cavalgaram sertão adentro participando de todas as quermesses, pagodes, e arrasta pés sertanejos. Donde abria uma sanfoninha de oito baixos a tradicional pé de bode no dizer caipira, lá estava à dupla de amigos.

Mas o tempo passou, os dois se casaram e vieram seus filhos.

Os pais faleceram e os amigos assumiram seus lugares; Certoro ocupou o lugar do pai herdando todos os seus bens. Sendo ele mais tarde agraciado com a patente de coronel, posição social, que em vida o pai também ostentou. Tornou-se não só respeitado com também temido. Por suas ações naquele imenso sertão. Antero ficou com o papel de carreiro da fazenda, tinha certas regalias devido à amizade entre ambos. Amizade essa que acabou anos mais tarde quando sua garotinha de quinze anos, filha única, se apaixonou, por Ricardo o primogênito de Certoro também seu filho único.

O coronel se transformou numa fera, ao descobrir que os adolescentes andavam burlando a vigilância das mães, e se encontrando as escondidas, aqui e ali nas dependências da fazenda. Exigindo que o amigo privasse a filha de se quer dirigir uma palavra ao seu filho, o coronel proibiu definitivamente o namoro. Mas o inevitável já havia acontecido, Marli estava grávida. Ao tomar conhecimento do fato, o patrão exigiu que Antero a tocasse de casa. Para a sua cultura, filha desonrada não prestava mais, e na sua fazenda jamais poderia morar. O homem esse era diferente nele nada pegava, porque era macho. Assim surgiu o impasse entre o poder do patrão e a submissão do empregado. E como a corda sempre quebra do lado mais fraco, Antero se viu entre a cruz e espada. Certoro deu seu ultimato poderia continuar na fazenda desde que a menina abortasse sua cria, e nunca mais cruzasse a porteira de sua fazenda sem a companhia da mãe, submetida a um cárcere privado em domicilio mantido pelos próprios pais. Sem alternativa a família se mudou para a fazenda Barro Branco. Uma das propriedades herdada do pai, pelo coronel e que a cedeu temporariamente com a condição de ser devolvida assim que ele se ajeitasse em uma colocação noutra propriedade. Dois longos dias de viagem por estradas carroçáveis separaram os dois adolescentes.

Ricardo ficou desesperado com a mudança de sua amada Marli, Antero e Laura o prometeram cuidar bem dela e quando ele atingisse sua maior idade, mesmo contrariando o pai os dois se casariam. Mas o destino foi cruel. Cinco meses após a mudança, embora Laura fosse uma excelente parteira ela conseguiu salvar apenas o bebê. A filha faleceu acometida por uma terrível hemorragia após o parto.

Na fazenda Rancharia, sem nenhum contato com sua amada o jovem Ricardo mergulhou em uma depressão profunda causada pela solidão, definhava a cada dia, a mãe cheia de preocupações tentava convencer o marido aceitar o casamento do filho. Mas seu orgulho machista e preconceituoso falava mais alto – Manoela minha querida isso passa, amor de adolescente não mata ninguém, isso é apenas paixão momentânea!—Que amor é este que tu dizes ter por nosso filho --, acorde homem vai perdê-lo para sempre, ele vai morrer! O menino não alimenta há tempos desde que tu expulsaste seu melhor amigo daqui! -- Não expulsei ninguém a escolha foi dele! Mas se é tão grave assim vou ver o que posso fazer! – Veja bem a tamanha injustiça que tu cometeste e procure consertar enquanto é tempo!

Certoro que pouco observava o filho entrou em seu quarto, mas era tarde demais, Ricardo estava imóvel, ele o chamou pelo nome diversas vezes, viu apenas quando duas lágrimas rolaram na face do garoto, e um ultimo e profundo suspiro expelido pelo que restou de sua respiração; seu filho estava morto. –Em prantos e desesperado o coronel acorreu aos braços da esposa, e ela superando toda a dor que o momento lhe exigia exclamou:- - Satisfeito agora coronel? – Maldito seja o destino, logo agora que eu estava disposto a mandar meu filho buscar de volta meu amigo Antero com sua família, o encontro morrendo!—Pois é, engula teu maldito orgulho, não ouviu meus apelos, e agora, será que seu ex-amigo e sua filha o perdoam?

Inconformado com a morte do filho Certoro não se perdoava e a esposa não perdia a oportunidade em lhe cobrar uma forma de reparar o seu erro para com a família de Antero, com a quais há mais de cinco meses decorridos de sua mudança não tivera mais nenhum contato. Mas o remorso corroia sua alma, e o cobrava dia e noite sem trégua. Até que ele decidiu ir ao encontro do amigo. Preparou sua comitiva e partiu para Barro Branco juntamente com esposa. Não era sua intenção botar os pés nesta sua fazenda, só o faria após seu ex-empregado se ajeitar noutra localicadade como havia determinado. Este era seu propósito que o destino o fez mudar.

Após dois longos dias de uma cansativa viajem pernoitando na fazenda de um colega, seus cavalos se esbarraram na porteira de sua velha e desleixada fazenda. Uma grande surpresa o aguardava. Uma estranha movimentação de pessoas que adentravam o velho curral da fazenda vindas da direção do pequeno povoado de cruzilhas. Fato que denunciava algo de anormal ocorrendo naquela estância.

(Continua na próxima semana.)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 03/12/2012
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4017291
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.