O Relógio Quebrado - In-contos d'minutos - Vol. 1 - Causos Caipiras
Eram dois irmãos: Jose e Durvalino.
Viviam eles no sempre a discutir sobre Religião; Durvalino era cético, ateu do mesmo nascido, acreditava, apenasmente, na força dos braços, do amanho da terra, do plantar, cultivar; do cuidar da criação, por outro lado, Jose era mais sensível, crente, acreditável da Religião, de Deus onipotente, da ressurreição da carne, do julgamento dos vivos e mortos nos últimos dias.
Quasemente que diariamente discutiam, expondo ambos opiniões contrárias chocantes em pleno ar, restando, apenas, palavras quebradas mal compreendidas. Apesar disto Jose e Durvalino eram inseparáveis, amavam-se de igualmente. Orfãos de pai e mãe cuja única lembrança dos pais era aquele relógio de pêndulo quebrado na sala.
Certa noite qualquer, pósmente, a refeição Jose e Durvalino estão conversando na sala. Jose fala ao irmão :
- Tou cansado.Já há algum tempo venho pensando em partir para outras terras.
- Por que ?? - surpreso indaga o irmão
- Preciso conhecer gente nova; preciso ir além dos limites deste sítio.
Saber que existe vida lá no longe.
- Ocê é quem sabe, irmão - respondeu resignado Durvalino.
O silêncio se fez pesado; o ar irrespirável, apesar da resignação de Durvalino pairava no ar a tristeza pela separação do irmão Jose, no porquê, repentemente, desejava ele partir, ir embora, deixando-o só.
Neste momento, Durvalino retorna ao velho assunto: Religião.
- Meu irmão, e suas rezas ?? Ocê se esqueceu de seu dever para com a igreja daqui ??
- Igreja existe em qualquer lugar. Eu sou cristão e acredito na ressurreição seja em qualquer lugar que estiver.
- Ocê é bobo mesmo, hein ??. Ressurreição ??. Meu irmãozinho, quem morre, morre, acaba-se, não há mais nada.
- Cê tá enganado, irmão !!.
- Tou ??. Então me prove.
- Provarei. Se em minha ausência eu morrer, prometo que venho avisar ocê da minha morte.
Durvalino riu gostosamente, pensando : - Vir, como ??. Morreu, acabou
e pronto.
Jose partiu e Durvalino continuou com a sua vida de igualmente mesmice do sempre, quando, certa noite, acorda assustado com o reló-
gio badalando. Durvalino acompanhou as badaladas do relógio quebrado, no agoramente, funcionando. Contou as badaladas do relógio: 1, 2, 3, ....12. Era, exatamente, meia-noite.
Assim que o relógio parou de bater , Durvalino intrigado com aquilo, chegou a pensar em fantasma, todavia voltou a dormir. Manhamente,
cedinho que cedo, ouve batidas na porta. Levanta-se Durvalino e ao abrir a porta, um desconhecido diz trazer-lhe tristes notícias :
- Senhor Durvalino, venho comunicar-lhe que seu irmão Jose faleceu
ontem à meia noite.