SABEDORIA MINEIRA
Eu era uma criança, lá pras bandas do Sul de Minas, na minha querida Alfenas, quando ouvi uma das boas de minha mãe:
- Filho, vá lá no Bastião e traga um kilo de bife de primeira, anda logo que é pro almoço.
Naquela época, não existia a nomenclatura dos cortes como hoje, não existia SIF, boi morria no mato e, carne era de primeira ou de segunda.
O açougue do Sr. Sebastião era um dos mais conceituados da cidade que tinha quatro açougues e dois eram dele.
Açougue São Sebastião, do seu Bastião, todo azulejado de branco, expositor e geladeira branca, uma serra de fita, um moedor de carne (também usado para fazer linguiça) balcão de alvenaria e um cilindro com dois rolos, usado para amaciar os bifes. No centro, um toco de arvore com aproximadamente 1,5m de diâmetro, usado como plataforma de trabalho.
- Seu Bastião, minha mãe mandou buscar um kilo de bife de primeira, pro senhor marcar na cardeneta.
- On quié pra marcar?
- Na cardeneta.
- Caderneta! Ce num vai na escola?
- Um kilo de bife, e o Sr. Marca onde o Sr. Quiser...
- Moleque maleducado e encapetado, num puxou nem o pai nem a mãe, perai que vo cortar, sem bater que sua mãe num gosta.
- Sim, sor...
Chegando em casa, entreguei o pacote pra minha mãe, ela temperou os bifes e começou a bater com um martelinho de bater carne, vendo aquilo, a indaguei.
-Mãe, Seu Bastião tem aquele troço de macetar bife, porque a Sra. num gosta que ele faça?
- Filho, eu bato no bife pra pegar mais tempero, não pra amaciar a carne, carne macia é de vaca ou boi novo, boi velho ce pode bater o tanto que ce apanha pelas suas artes, que num vai amolecer...
Eu fui um capeta quando moleque, apanhei todos os dias até os dez anos, quando criei jeito.
Imagens by google.
museu do açougue picada café.