A DAMA DO CEMITÉRIO (ULTIMA PARTE)

Atendendo a solicitação da sogra Silvia retornou a capital a encontrou bastante otimista esnobando saúde praticamente recuperada do trauma sofrido com a perda do filho. Estava freqüentando um haras, ela sempre foi louca por equitação e cavalgar era seu mais apreciado passa tempo desde a época que o marido era vivo. Silvia ficou feliz com o estado de ânimo da sogra, afinal elas sempre se deram bem. Pra dizer a verdade seu carinho superava o de sua própria mãe que passou a vida interferindo em suas ações a começar forçando seu casamento.

Irradiante com o retorno da nora ela quis passar a ela o comando dos bens que por direito lhe pertencia. Ela não aceitou afirmando que a herança de seus pais já lhe bastava uma vez que sozinha queria apenas o necessário para sua sobrevivência nada mais que isso, deixaria que Noêmia desse o destino que bem entendesse ao seu patrimônio, passaria uma procuração delegando a ela domínio absoluto sobre tudo que lhe fosse de direito na herança de seu marido. Quando Silvia anunciou que retornaria urgente devido às pendências a serem sanadas em sua fazenda. Noêmia ficou profundamente triste, necessitava muito de sua companhia afirmou ela. Mas fazer o que eram dois patrimônios muito importantes e o melhor seria dividirem a tarefa. Silvia em tom de brincadeira disse. – Quem sabe um casamento com o belo jóquei lá neste haras que está freqüentando não lhe fará bem, e será ótimo para lhe fazer companhia? Pense nisso e terá minha total aprovação! --Eu minha querida com setenta e cinco anos vai deixar para você, que pouco passou dos cinqüenta, Túlio em vida me disse diversas vezes que se viesse a falecer antes de ti, acaso surgisse um novo amor em sua vida que eu fizesse o possível para que sejas feliz encontrando o que com ele, você não conseguiu o seu verdadeiro amor!

Mal sabia a nora que o coração da sogra já balançava pelo recém contratado zelador do haras freqüentado por ela, e que a encantava com tamanha gentileza ao lhe preparar com todo cuidado e carinho o cavalo que sempre foi seu preferido. Ela só não o havia declarado pelo medo de um não, devido ser ele vinte anos mais jovem. Aquela resposta e a revelação de Noêmia com respeito à recomendação de seu filho tocaram o coração de Silvia que ainda nutria a remota esperança de reencontrar Marcos então viúvo da camponesinha.

Silvia retornou a sua terra natal e dedicou de corpo e alma aos negócios em sua propriedade. Rosa antiga empregada que no passado fora demitida por sua mãe por ser sua confidente e mensageira, tornou sua governanta e gozava de todos os privilégios naquele luxuoso palacete. Aconselhada por ela, Silvia decidiu procurar informações a respeito do paradeiro de Marcos. Não obteve sucesso, a única dica que seu amigo Sergio lhe passou foi que logo após a morte da esposa ele partiu indo residir com os filhos na capital. E a partir dai não deu mais noticias perderam o contato com ele completamente que não deixou nenhum endereço, o sogro também fazia tempos que não sabia seu o paradeiro.

Sua iniciativa em revê-lo avivou a chama de amor em seu coração que há tempos estava adormecida na cinza do seu passado sepultada pela desilusão. Sua sogra estava sempre em contato informando a respeito dos negócios a ela confiados, e que por sinal iam muito bem. Em visita à nora ela contou sobre seu namoro com o zelador do haras, descrevendo uma serie de atributos que faziam dele um excelente cavalheiro. Mas estava receosa pela diferença de idade. Silvia a incentivou afirmando que daria todo apoio e que foi ótima sua decisão, ela teria o pulso forte de um homem que ao seu lado a completaria.

Noêmia retornou a capital e continuou cuidando dos negócios e feliz com o namoro e a convivência com sua adorável nora, passava o tempo, e nada de Silvia reencontrar Marcos. Noêmia acertou com o namorado eles ficaram noivos, com a condição de se realizar uma cerimônia simples, apenas com a presença de os seus familiares. Ao darem andamento no papelório para o enlace ela descobriu que o noivo era conterrâneo de sua nora. Quis que ambos viajassem queria apresentá-lo a ela, mas ele recusou afirmando que sepultara seu passado, preferia não voltar a sua terra jamais, e esperava que ela o compreendesse e respeitasse essa sua atitude. Ela aceitou e deu por encerrado o assunto. Marcou a data do casamento e avisou Silvia, como ela havia marcado um evento para a mesma data e não poderia comparecer Noêmia o adiou para a semana seguinte.

Na data marcada Silvia se aprontou e foi prestigiar a sogra, mas um acidente acorrido causou um grande congestionamento na estrada, ela só conseguiu chegar à cerimônia quando os noivos estavam deixando o altar já no momento final do enlace. Ela ficou entre os convidados na ala lateral da igreja onde outra noiva aguardava sua vez de entrar, Noêmia preocupada com sua ausência olhava entre seus poucos convidados constantemente indagando um e um se não havia visto sua nora, mas poucos ali a conheciam somente os empregados de sua casa. Os familiares do noivo nunca a haviam visto. Atrás de um dos pilares da igreja entre os convidados do outro casamento quase sem chão, ela viu seu grande amor Marcos sair sorrindo de braços dados com sua sogra, com quem acabara de casar. Deu um tempo, quando todos partiram rumo à festa, ela saiu da igreja entrou em seu carro donde seu motorista aguardava e deu ordens para partir. —A senhora não vai à festa? –Não! Toque de volta para casa e não pergunte o porquê ta bem? Como à senhora queira dona Silvia!

De volta a sua casa Silvia escreveu uma longa carta a sogra se desculpando por não comparecer ao casamento, lamentando, e explicando a causa que a obrigou voltar do caminho, desejou a ela toda a felicidade do mundo, e como ela já era sua procuradora passasse ao seu noivo, ou melhor, ao seu marido como presente de casamento todos os bens a ela deixado pelo médico, seu filho, com ela foi casada. E que numa próxima oportunidade ela visitaria o casal para conhecer seu cônjuge.

Assim foi sepultado de vez aquele grande amor que por momentos ela o viu ressurgindo da cinza do seu passado, mas foi impedido pelo destino.

--Esta meus amigos é a minha historia, não sei se Marcos já descobriu que está casado com a sogra, de um seu ex-amor, ele jamais voltou nestas terras. Apesar dos apelos de minha sogra eu nunca conheci seu marido e não será agora com ela escloresada, e eu vivenciando meus últimos momentos, que eu irei conhecer, mesmo porque só me restam poucos dias de vida, afinal o que eu mais desejo agora será a ajuda de vocês dois. Meu império foi transformado numa instituição que acolhe os idosos desamparados de toda esta região, e meu patrimônio tem condições mantê-lo por longos anos. Vocês dois vão pedir demissão deste serviço que pouco lhes rende, e vão assumir essa minha instituição. Quando eu partir o que será muito breve, vocês me colocarão no tumulo de meus pais aumentem mais um vaso de porcelana, que, aliás, já está sobre ele, eu já o providenciei, e da mesma forma que eu os mantive florido com o mesmo espaço de tempo vocês irão abastecê-los, estamos combinados? Podem tomar as providencias necessárias preparar a documentação, eu quero os dois morando em minha fazenda esta semana ainda, segundo os médicos meu tempo de vida é curto e temos que agir rapidamente. –Tudo bem patroa, mas só um detalhe, a senhora esqueceu, e o ramalhete de rosas vermelhas naquele outro tumulo do canto cemitério?—K.KKKKKK. Amigos... Não será mais necessário, sob aquela lápide está enterrado apenas um bauzinho de metal com uns bilhetinhos ingênuos, sonhos de um amor não realizado, de duas crianças, e que em breve estará junto de mim em meu tumulo.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 26/11/2012
Código do texto: T4005359
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