EMPÍRICO 1 X 1 CIENTÍFICO

“...quando o adversário é bom, empate pode ser considerado vitória...”

Por natureza o caipira sempre foi ligado aos fenômenos climáticos. Através da observação empírica o roceiro sempre acompanhou as condições do tempo. O tipo de nuvens, principalmente ao entardecer, fornecia as condições do clima para o dia seguinte (“... ruiva de tarde, sol amanhã...” ou “...sol entrou encoberto, chuva por perto...”. Outros se baseiam nas fases da lua. “... Lua Nova trovejada, 30 dias de terra molhada...” ou “...Chuva que começa na Minguante, 7 dias avante...”. E por ai vai. Voo de pássaros, canto da Saracura, algazarra dos bugios etc.

Eu, como é o caso sempre gostei de observar as nuvens e daí tirar minhas conclusões, certamente estimulado pela necessidade e dependência da chuva e da estiagem, na hora certa, para o desenvolvimento da lavoura. A bem da verdade , diante das frustrações, apelávamos para promessas, novenas, levar água, em procissão, para molhar o Cruzeiro no Cemitério. Nunca fiquei sabendo direito quem era o padroeiro para fazer chover. Meu Pai dizia que era São Pedro. Quando queria chuva brincava: “...o Pedrão podia abrir as torneiras...” ou ao contrário: “... o Pedrão podia fechar as torneiras...”. Diante do tom de blasfêmia, minha Mãe ficava brava: “... com essas coisas num se brinca, Chico!!!”. Escondida quando a chuvarada de fevereiro e março ameaçava a colheita do algodão, ela colocava um ovo para Santa Clara. Hoje, no entanto, continuo como fazia, subindo em pontos mais altos para ver as nuvens com maior precisão. Só que troquei as árvores pelas fotos dos satélites. O horizonte ficou mais distante e mais amplo. Dá para tirar conclusões mais precisas e com maior espaço de tempo...

Um dia desses, meu compadre Vanderlei Fonnof me mandou um “Causo” que ilustra bem essa disputa entre o Científico e o Empírico... Dizia o relato: Já entrava o mês de Maio e a possibilidade de fazer frio aumentava, numa aldeia que não sei bem onde ficava. Os índios começavam a juntar lenha para enfrentar os rigores do inverno. Mas, baseados nos costumes da tribo, foram consultar o cacique que, embora novo, tinha suas obrigações institucionais de comandar as decisões. Intimamente ficou surpreso, mas não podia confessar sua ignorância no assunto. Saiu para o centro da maloca. Observou o céu, as nuvens, molhou na boca o dedo indicador direito e o elevou a uma altura um pouco acima da cabeça, para sentir a direção e a velocidade do vento (e também causar uma boa impressão no eleitorado). Disse que seria bom catar mais lenha, mas que estaria à disposição para maiores ajustes no processo... Sorrateiramente foi a um povoado pouco distante e, de um orelhão, sem que ninguém visse, ligou para o serviço de Meteorologia e repetiu a questão. Num curto espaço de tempo, mas não de pronto, veio a segura resposta: Tudo indica que vamos ter muito frio este ano... Voltou à aldeia e no encontro com seu povo recomendou que aumentasse o estoque do renovável combustível. Mulheres e crianças aumentaram o contingente no específico trabalho. E em intervalo de dois dias o cacique foi repetindo a consulta ao pessoal da meteorologia. Fiquem prevenidos! Vai vir muito frio! Quando o estoque já atingira níveis históricos, inclusive com gravetos e até folhas, o cacique resolveu ir mais fundo nas informações e questionou o técnico em meteorologia: Diga-me como tem você tanta segurança para prever esse gelado inverno que se aproxima? Rapaz! Confesso-lhe que também estou surpreso, mas nunca vi os índios catarem e estocarem tanta lenha como estão fazendo este ano!!! (oldack/12/11/012).

Oldack Mendes
Enviado por Oldack Mendes em 25/11/2012
Reeditado em 25/11/2012
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