A cirurgia da D. Zulmira

A cirurgia da D. Zulmira

Maju Guerra

Carlinhos era instrumentador, naquela manhã acordou no horário de sempre e foi para o hospital. Mais um dia normal como os outros, pela manhã apenas uma cirurgia para retirada de três pedras na vesícula. Conheceu a paciente, D. Zulmira, uma senhora simpática e reservada.

Após os procedimentos necessários, todos no Centro Cirúrgico, D. Zulmira já deitada na mesa de cirurgia e anestesiada. De repente, a mulher sentou-se. Com os olhos fixos e esbugalhados, começou a falar alto, uma voz gutural de arrepiar a nuca de qualquer mortal:

- Deixem este corpo em paz, ninguém toca neste corpo, ele me pertence...

Houve um rápido tumulto, todos assombrados, nunca haviam presenciado caso semelhante. A paciente continuava a dizer coisas estranhas, a mesma voz assustadora vinda do fundo da garganta:

- Estou avisando, fiquem longe de mim, deixem este corpo em paz...

Ninguém ousou sair da sala. Tensa e quieta, a equipe médica decidiu aguardar mais um tanto. Aproximar-se da D. Zulmira parecia algo absolutamente temerário.

Passados uns minutos, a paciente fechou os olhos, deitou-se calmamente e permaneceu imóvel. O cirurgião, de forma cautelosa, foi se aproximando do corpo, que continuava imóvel. Constataram, então, que o ser que aparecera já não se encontrava mais por lá. Finalmente, a cirurgia começou, correu tudo bem até o final, para alívio geral. O mais rápido possível, a paciente foi removida para seu quarto.

O caso da cirurgia da D. Zulmira circulou à boca miúda pelo hospital. Acontecimento certamente sobrenatural, com o tempo virou lenda. Uns não acreditaram da história, outros riram bastante. Os que acreditaram morrem de medo de que possa acontecer com eles...

O “causo” é verídico.

Maria Julia Guerra.

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