ALELUIA DE HAENDEL
Tudo pronto para a formatura. A Diretora da escola estava toda feliz, porque era a formatura de mais uma turma. O salão estava repleto de convidados. Eram os pais, os avós, os jovens, a vizinhança. O prefeito e sua esposa, o Juiz de Direito, o policial, o jardineiro, o secretário de educação, até um deputado. Sim, todos ali presentes e contemplavam o mais belo momento.
Lá no fundo, o grupo de formandos formavam a fila mestra e alguns professores, todos muito bem vestidos, com vestidos coloridos, ternos de linho, máquinas fotográficas, filmadoras, organizavam a entrada e pediam silêncio aos formandos.
Bem próximo à mesa, estava posicionada a supervisora, que se vestia um vestido branco, com um colar de ouro, um par de brincos importados, um relógio adquirido na feira do Iapoque, um par de sapato bem alto e toda feliz anunciava o início da cerimônia.
Felicidades... dizia ela com uma voz pausada e começava a cerimônia. Por estamos juntos nesta noite tão maravilhosa. Noite de gala, de alegria e de muita responsabilidade desta escola Municipal, porque hoje novos jovens estão entrando cumprindo sua missão e entregá-la a mais pura felicidades de seus dignos pais... um tossido para limpar a garganta de um catarro...
Neste exato momento, a escola convida os senhores Prefeito, vice-prefeito, juiz e foram as autoridades, ali presentes, uma a uma compondo a mesa.
Pedrinho, uma aluno meio franzino, de poucas palavras, mas de um olhar muito esperto, chegou perto da diretora e queria dizer algo, porém a diretora, concentrada na movimentação da mesa, nem lhe deu atenção.
Convidamos os formandos, dizia a supervisora, para adentrarem e tomarem seus lugares. Um a um foram todos chamados.
Pedrinho queria dizer algo para a diretora, mas ela nem lhe deu atenção.
Agora, neste momento, vamos chamar o coral da escola para cantar o Hino Nacional e uma peça que foram coordenados pela professora Vera, professora de música, canto e boas maneiras.
Neste momento, o coral surgiu no fundo do salão e um a um subiram ao palco e em posição de formação iniciou o cântico do Hino Nacional.
Pedrinho, mais uma vez, queria dizer alguma coisa à diretora, mas esta não lhe dava a atenção necessária.
A professora Vera havia criado um estilo de comunicação com os membros do coral utilizando sempre a língua em que a música era cantada. Quando a música era no Português, a comunicação era no português, no inglês, no francês, etc...
Após a execução do Hino Nacional, a Supervisora anunciou que o coral executaria uma célebre música clássica, de um dos maiores compositores clássicos da época. O coral executaria a música “Aleluia” de Handel. Todos se espantaram, porque a música era muito difícil. Eles cantariam em latim.
Recordando, a banda de música já tinha tentado o ensaio desta música há algum tempo. De tão complexa, jamais conseguiu acertar e houve briga causando o afastamento de muitos músicos, maestro, diretoria da banda e outras coisas.
Pedrinho fazia sinais para a diretora, mas, como sempre, jamais dava a atenção.
Portanto, iniciaram.
Alguns violinos, um piano, contrabaixo, etc. Os instrumentos começaram a tocar e a professora Vera fez o sinal de início.
Neste momento, os componentes viram que algumas baratas começavam a andar perto deles. Subiam no palco, passavam perto da supervisora e desfilavam tranqüilas...
Já com a música com o sinal dado, começaram a cantar, em latim:
“ As baratas, as baratas, as baratas, baraaatas, .....
O que fazemos para não gritarmos,
A professora Vera respondia:
- Não façam naaada, pelo amor de Deus.
O coral:
- As baratas, as baratas, as baratas, baraaatas
- Essstão vindo em nossa direção:
- Acho que eu vou griiitar,
- Por favor, por favor, não grite,
- Se não vai fazer confusão... Imagine, imagine, que pensará o Sr. Prefeito.
- Ele não vai fazer naaada, mas a mulher dele, dele, vai fazer escannndalo;
- Então fiquem quietos que tudo passara...”
Até certo tempo tudo ia bem. Muitos não entendiam latim e se achavam que a música estava fazendo o maior sucesso.
Porém, a supervisora tinha o maior pavor de baratas. Diziam que quando encontrava alguma subia nas cadeiras, nas mesas e até em árvores. Empolgada com a música, balançava a cabeça, batia palmas, mas não desligou o microfone.
Em um dado momento, ela, olhando para o chão e bem perto de seu pé, viu duas baratas. Não deu outra.
Socooooorrrrrrooooo, baratas no salão, fujam...
O alvoroço foi total. Era gente pulando, mulheres subindo nas cadeiras, homens pulando de um lado para o outro. Até o policial subiu na cadeira e começou a gritar.
O coral se desmanchou e foram pessoas correndo e saindo do salão.
Acabou a cerimônia de formatura.
Pedrinho chegou perto da diretora e disse que a caixa com sua coleção baratas havia caído e as baratas fugiram.
A diretora falou porque ele não a avisou, mas ele disse que queria falar com ela, porém ela não o atendeu.
Dizem que até hoje não sabem explicar o mistério da formatura das baratas.