Conterrâneo.
Conterrâneo.
Esse causo quem me contou foi o velho Antonho, que era nascido e criado na estação de TOCANDIRA, lá no norte das Minas Gerais. Em TOCANDIRA vendiam biscoito de araruta.
Praça Mauá Rio de Janeiro. Seis da manhã chegou o TREM NOTURNO de Belo Horizonte... Terno branco, chapéu branco, botinas, pasta debaixo do braço o CABOCLO sentou no bar e pediu uma taça de café com leite, pão e manteiga... O bar esvaziou e ele continuou sentado... Sete horas, oito horas, nove horas e ele ali... O dono do bar saiu do caixa e foi perguntar... Tá querendo algo mais?... CABOCLO agradeceu e contou:
- To esperando um companheiro de viagem, um conterrâneo de Minas, que eu emprestei MIL contos de réis... Conterrâneo de Minas que eu conheci no trem... Ele falou até SEIS horas eu pago...
O dono do bar sacudiu a cabeça e perguntou:
- Conheceu no trem?!... Emprestou mil contos de réis?
- Uai!... Ele vinha no aperto de pagá uma divida até as oito horas de hoje... Nessa hora banco tá é fechado... Eu emprestei, ele paga a divida e depois vai no banco tira os mil conto e vem aqui pra pagá eu... Até as SEIS...
- O senhor sabe o nome dele?... De que cidade?
- É mineiro de Minas.
- Sinto muito... O senhor caiu no conto do vigário...
Onze horas o bar começou a ter movimento, gente dos comércios da Mauá que iam almoçar. O CABOCLO lá sentado. O dono do bar contava pros fregueses:
- Caiu no conto... Emprestou mil contos de réis...
Uns apenas olhavam, outros davam risada e outros iam perguntar ao CABOCLO. Ele repetia:
- Conheci no trem... É de Minas... Vem pagá aqui... Até as SEIS horas...
Depois que muitos riram depois que muitos deram palpite, o CABOCLO levantou foi até o caixa e tirou da pasta uma pilha de notas, colocou ao lado da caixa:
- Aqui tem mil contos de réis... Jogo esses mil contos que até as SEIS da tarde o conterrâneo vem-me pagá...
Sim, não, joga, não joga. O dono do bar topou e convidou mais uma meia dúzia. Fizeram a vaquinha. Do lado da caixa as duas pilhas de notas.
Passou à tarde... Por volta de cinco horas os apostadores e curiosos começaram a chegar ao bar. O CABOCLO sentado quieto... Cinco e quinze e o bar cheio... Cinco e meia, mais gente... Cinco e quarenta as duas pilhas de notas no lado da caixa... Cinco e quarenta e cinco. Dois mil contos davam pra comprar duzentos bois... Dez para as seis o ponteiro do relógio se arrastava. O CABOCLO tranqüilo... Cinco para as seis um CIDADÃO apressado, com um pacote na mão entrou no bar, olhou para todos os lados e foi ao CABOCLO:
-Uai!... Omi quase que se danou!...Consegui...
CIDADÃO entregou o pacote ao CABOCLO, e ante o olhar e o silencio de todos... CABOCLO colocou o pacote dentro da pasta. Levantou, foi até a caixa, pediu licença, juntou as duas pilhas de notas.
CABOCLO saiu tranqüilo com a pasta debaixo do braço. Cinco quarteirões adiante o CIDADÃO tava esperando. Os dois deram risadas e comentaram:
- Foi um grande golpe!
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(no Clube dos Autores- A República do Brioso)
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