JUCA SOCA PÓ

Num casebresin na bêra da istrada, feito de sapé e bambu, quais varano na cabicêra do patrimõe du são Pedo - pru-di-perto de Entrifoia - vivia um casalin geitoso: Arzira e Juca Soca pó. Sastifeito feit'êles só.

Casaro na frôr da idade avançada, pur'isso num deu tempo de arrumá minino, rabo di saia.

Como nunca prantô siqué uma arvinha na bêra da tapera - sombra qui tinha lá era da casa memo, e só aparicia condo o sór virava pru -ditrais da pedra, na barra da tarde.

Juca Soca pó deitava cedo, deitava e drumia iguále uma lontra. Arzira não, prêmero iscuitava umas modinha, dispois a voiz do Brasir; num pirdia um pograma do Zé Bétio, e morria di rir das prezépadas e bestêra du Jacinto.

Incontuisso ajeitava na partilêra as cabacinhas e os coité.

Cabano passava barro branco nas parede e bós-di-boi na cuzinha, - aí sim, dispois di tudo no lugá, deitava e drumia tamém, tranquilinhazinha... Inté ressonava

Juca levantava cedo, junto cum galo... inconto ele pulava da cama o galo pulava du pulêro. Da jinela via cond'ele cantava e arrastava as -asinha pru lado da galinha carijó, aí lembrava di Arzira, sua cumpanhêra, qui ainda num tinha levantado.

Macaquêro, pensava: “ Éh, a cumpanhêra do galo já tá di pé cantano, cassano nin quereno botá, já a minha virô pru canto e num para di roncá. Será quiô -tô perdeno pru galo ó é a Arzira qui tá perdeno pa -carijó”?(!)

- Ispriguiçano todo, cuns bracin aberto, pensava o capiau morreno di rir da sua comparação.

Juca pegava na inxadinha as cinco e um pôquin... mais inhantes cumia uma tigelinha boa de fubá suado; as nove já pegava a bóia inté “bambo” di fome traveiz; meio dia Arzira levava nu pé du êito uma travessinha de broa cum café, e cond'era trêis da tarde já virava pra casa, pa -cumê dinovo. Agora, um cardêrão ismartado di janta: Arroiz, fejão, angú, côve rasgada fogada, ovo da carijó istalado, e uma caneca boa d’agua.

O prato era sempre o memo, condo munto, pra variá, aparicia um torrêmin; isso, ni -época qui matava capado nu vizin mais perto, qui ficava mais-ó-méno, umas trêis légua di- distança.

Sábido, dumingo e firiado era sagrado, e Juca num trabaiava purnada, nem si chegasse um macaco dum trinta e oito e cutucá a cacunda dele; guardava dereitin, fiermente - mais num era pur -carsa di riligião não, ele falava qui era pra discansá o coirpo.

Soca pó gostava mémo era das tairde, ele e Arzira; Condo a sombra arcançava a frente da casa ele garrava nu piscucin dum violãozin quê feiz, arrastava Arzira pra fora e sentava ali num toquin. Ele dum lado e Arzira d’ôtro. Juca tocava e Arzira iscuitava. Ele falava qui Arzira gostava memo era di –iscuitá. Mais numêi da moda, entre ele e ela só, diveiz incondo ela arriscava uns versinhos: - “inté qui cantá canta, e canta bem, mais é acanhada feito ela só, e só canta pra mim”! - Dizia Soca pó - filiz da vida, arrastano ôtra moda e uma risada isparramada, uma gaitada médonha.

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 22/11/2012
Reeditado em 04/11/2014
Código do texto: T3998901
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