o bando de velhinhos com tchacos- episódio 1

Recentemente, uma notícia de uma tentativa de assalto assustou o povo carioca. Claro que isso não deveria ser novidade alguma ou motivo para espanto, já que a cidade é habitada por um bando de criminosos em potencial, ou seja, flamenguistas. Mas dessa vez as circunstâncias do ocorrido foram totalmente atípicas. O que aconteceu? (por favor, imaginem três ratinhos cegos, com óculos escuros e bengala perguntando isso em voz alta).

Melhor contar o que aconteceu nesse parágrafo, o anterior já estava muito grande. Uma senhora de aproximadamente oitenta anos dói vítima de uma tentativa de assalto. O flamenguista, digo, o meliante, ameaçou esfaquear o poodle da senhora, chamado Predador, caso ela não entregasse um celular pré-pago que adquirira pagando em doze vezes nas Casas Bahia. Mas a velhinha, que costuma puxar assunto com pessoas inocentes em tudo quanto é lugar (desnecessário esse aposto, eu sei), tomou uma atitude inesperada...

Ela abriu a bolsa e de repente, não mais que de repente, sacou de lá um revólver calibre 38 e atingiu em cheio a mão do filhodaputa, digo, a mão do criminoso. O infeliz desabou a chorar e em questão de minutos apareceram nada mais nada menos do que oito carros de polícia no local. Engraçado, oito carros de polícia para prender uma velhinha que agiu em legítima defesa. Onde esses malditos estão quando são realmente necessários?! Ora, foda-se os direitos humanos, a velhinha fez mais do que um bem ao atirar no assaltante.

Pelo que foi noticiado, ela ficou presa por uma noite e aguarda julgamento. Incrível, né?

Mais incrível ainda é o que vou revelar e narrar agora. Conheço essa velhinha. Para mim, essa atitude dela não foi inesperada. Por que causa, motivo, razão ou circunstância eu digo isso? Porque ela durante algum tempo fez parte de um grupo de velhinhos que eram uma espécie de grupo de justiceiros, pois protegiam um bairro carioca da ação dos mais diversos tipos de bandidos.

O grupo era composto por oito velhinhos. As reuniões em que discutiam seus planos de ação não eram realizadas em locais secretos, e sim em locais ao ar livre, mas livres de quaisquer suspeitas. Discutiam seus planos de ação quando estavam jogando baralho, dominó e xadrez nas praças, também quando estavam levando seus cachorros para fazer suas necessidades básicas pelas calçadas, sujando-as por inteiro.

A única arma que possuíam eram tchacos feitos com dois pedaços de cabos de vassoura ligados por uma corrente retirada do vaso de uma samambaia. Apuravam o manejo do equipamento a cada dia, muitas vezes inspirados nas técnicas do célebre e imorrível mestre Myagi, aquele simpático velhinho oriental que treinou a tremenda dúvida Daniel San na trilogia Karate Kid. Para quem não sabe, uma trilogia é composta de três filmes.

O fato de conhecerem muito bem o bairro em que moravam e também os habitantes dele também servia de grande auxílio. Todos os dias, importunavam, digo, conversavam com pessoas em filas de banco, em ônibus, em padarias e em qualquer lugar que vissem uma alma desamparada parada por mais de dois minutos. Assim, conheciam bem a rotina de cada morador, suas companhias e também facilitava o observar da vida alheia, que é muitas vezes toda a necessidade humana, como diria Machado de Assis.

Algumas vezes, agiam muito bem, como quando renderam a golpes de tchaco um rapaz que comprara um churros da barraca do Brivan e esqueceu de pagar. Outras, agiam atabalhoadamente (isso é difícil de falar, tentem só), como quando encheram um rapaz de porrada só porque ele comprou um saco de jujubas e reclamou com o vendedor por existirem jujubas verdes em demasia.

Mas eles eram exímios combatentes do crime. Alguns tinham até um certo know-how nisso. Um de seus integrantes conseguia algumas informações privilegiadas, já que era um policial aposentado e mantinha amigos nas delegacias próximas. Tal amizade era mantida, cabe lembrar, pela promessa de não ir costumeiramente à delegacia, pois ninguém de lá agüentava mais os papos do “véio”.

By the way, esses velhinhos prestaram um bom serviço para a sociedade. Hoje em dia, não estão mais em serviço. Isso não quer dizer que a paz, o amor e a harmonia reinam por aí, mas é que o tempo chega, tal com,o um rato que tudo rói, diminuindo e alterando quaisquer possibilidades.