SEU JOQUINHA

Não sou homem de correr do perigo, se é pra enfrentar bicho ou mesmo vampiro, eu enfrento, dizia, a todos pulmões, seu Joquinha. Seu Joquinha era por demais que conhecido, não só pela braveza com que se apresentava, mas também pelas verdades que inventava. Ninguém podia nunca que falar que era mentira, mas também que era verdade, pois, das suas bravezas nunca que tinha quem tivesse visto. Então se mentira não podia dizer que era, acredita-se no seu Joquinha. Assim tudo ia conforme o contado e o costume, e a braveza que só ele sabia, era, por assim dizer, mais que repassada; era por cada um que contava, aumentada. E a fama que já não pertencia mais só aquela região, avançou inté por outras bandas. Tamanha tinha avançado que até reportagem veio para falar com seu Joquinha. Foi um dia em que a cidade, acostumada com a calmaria que até cansava, se transformou com com aqueles aparelhos: cabos de fios, gente falando numa televisãozinha, moça maquiando outra moça, enfim, tanta gente nova e estranha que causou certa desconfiança. Uns pensavam que era gente muita esquisita, pois, como podia ter gente dentro de um aparenho e também fora dele no mesmo instante, perguntavam uns aos outros. Mas todos sabiam que tudo aquilo era por causa do seu Joquinha, ele que não tinha medo de nada, era a pessoa que todos aqueles queriam conhecer. E foi contando cada braveza do seu Joquinha que a cidade ficou sabendo que já fazia um tempo ele havia enfrentado um vampiro e um lobisomem, os dois ao mesmo tempo. Corria pela cidade que rondava pelas redondezas esses dois seres; que tinha acontecido de pegarem namorados desatentos. Nunca que ninguém conheceu alguém, mas falavam que não fosse seu Joquinha, tanto o vampiro como o lobisomem, ainda estariam pelas bandas. E já que a fama tinha atravessado fronteiras, que até veio reportagem falar com ele, era justo que o prefeito, o sacristão, o vereador e, também, a viúva do padeiro (que era o cabra mais rido da cidade) saíssem junto com seu Joquinha na televisão. Tudo foi preparado: os cabos esticados, a moça maquiada,

as luzes acesas. A cidade nunca tinha visto tanta claridade numa noite, pois, como toda cidade esquecida pelas autoridades, ficava, assim que o sol se punha, tão escura que não se via nem a própria mão na frente dos olhos, de modo que, naquela situação, era a coisa mais que normal, todos irem pra cama bem cedo. Mas naquele dia, quer dizer, naquela noite, estava tão claro que parecia dia. Todos estavam na rua, ninguém, nem mesmo as crianças, estavam deitadas; todos queriam ver a reportagem. E assim se deu: seu Joquinha no centro da roda que se formou. A moça da reportagem espera o sinal. Tudo ok, fala o homem que comandava tudo de dentro de um carro cheio de televisãozinhas. A moça, ao ouvir o primeiro sinal, se prepara para a primeira pergunta, mas não chega a fazê-la, pois, ao longe se ouviu um grito tão alto, que todos que estavam vendo a reportagem olharam na direção da mata. O silêncio dominou a prendeu a atenção de todos, inté da reportagem, quando ouviu-se uma voz que dizia "não desisti, voltei para terminar o serviço". Era tão tenebrosa que num piscar de olhos não se viu ninguém, e quando a luz voltou, apenas a moça da reportagem estava no centro da praça; todos o demais, inclusive seus amigos sumiram e nunca mais se soube o que aconteceu. E seu Joquinha? Falam que no dia em que se ouviu a tenebrosa voz e todos correram, falam que no dia seguinte acharam um papel no banco da praça que nele se podia ler "fui atrás do grito, não me sigam" O fato é que depois daquele dia seu Joquinha nunca mais foi visto, mas não há quem desmente que naquele dia ele foi enfrentar aquela voz, isso foi...

silvio lima
Enviado por silvio lima em 21/11/2012
Reeditado em 25/04/2013
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