A PONTE DE MINHA INFANCIA....aquela velha ponte sobre o nosso rio pardinho...
Aquela velha ponte de madeira sobre o nosso rio Pardinho tinha mil histórias e algumas encantadoras, enquanto uma outra, de concreto, havia sido erguida um pouco mais acima para o esquecimento de sua existência. Mesmo assim mantinha-se orgulhosamente de pé, talvez aguardando a volta daquele garoto que um dia se foi para distante, deixando sobre ela lágrimas de despedida, quando a seu pára-peito abraçado, prometeu um dia voltar para acariciá-la, beijá-la em forma de agradecimento pelos momentos felizes que junto a ela passou brincando e nadando em sua sombra espaçosa, nos verdes tempos de criança junto a molecada da escola...todos pelados e inocentes.
Era também ali, em sua sombra que casais se encontravam. Era ali que transbordavam calorosamente as promessas de amor. Era ali nas areias brancas que brincávamos de lutar e pular carniça ao som das correntezas espumantes, caprichosamente bordadas de branco. Águas barulhentas e cristalinas de minha infância e de meus encantos, de meus sonhos e de todos os momentos mais felizes de minha vida.
Parei e olhei e vi sinais de reconhecimento! Parecia estar viva , parecia me reconhecer, parecia me sorrir e me sorriu, parecia chorar de alegria e chorou!
Não me contive e corri para os seus braços enegrecidos e roídos pelos anos de minha ausência. Roídos pela saudade quase eterna de um momento...de vários momentos, de um tempo só escrito e gravado na tulha de nossas lembranças ... muitas lembranças! Era ela a mesma ponte, mais velha porém robusta, a mesma que ouviu meu choro da partida, de despedida, de desconsolo e carência. Talvez s soubesse ela muito mais que eu, quando frustrado me aconchegava a ela, revelando minhas dores e ressentimentos...meus sonhos de vida. Voltei e ali estava eu, curtindo cada centavo de meu tempo, grudado a ela; amando-a verdadeiramente como se ama um grande irmão, um grande amigo, um companheiro de velhas batalhas; de vitórias e de derrotas. Como se pedaço também fosse de sua história, do desprezo...ninguém mais passava sobre ela! E já que não podia levá-la comigo, deixei-lhe minhas lágrimas como forma, mais uma vez, de reconhecimento e amizade, pois, só ela entendia o meu silêncio e as humilhações, cruéis e incuráveis.
Andei alguns passos e ouvi o velho rangido de seu cansaço, de seu peso secular de existência. Parei ! Sem olhar para trás, ouvi o barulho de sua queda, desabando sobre as águas claras do meu rio Pardinho. Talvez tenha sido o peso de minha consciência por tantos anos ausente que ela tenha tombado! Talvez pelo peso de uma saudade, de um sentimento maior!
Eu carregando uma velha cruz de culpabilidade, caí sobre aquela areia quente de verão e ali enterrei meu rosto encharcado de pranto, assistindo a parte de meu precioso relicário desmoronar diante de meus olhos desconsolados ...um homem inundado de sentimentos.