O mato assombrado
Essa história que passo a narrar é mais uma das histórias que acontecem aqui na região em que moro (bem interior mesmo), e que é verídica e aconteceu mesmo, fontes seguras me afirmaram.
Bem vamos ao conto.
Seu Tião era um sujeito muito conhecido mais também metido a valentão e vivia dizendo que não tinha medo de nada e que enfrentaria até mesmo o diabo se fosse preciso.
Certa vez era quaresma e como quase não se usava automóveis na época, o meio de transporte mais viável e mais visto era o cavalo mesmo.
Seu Tião havia ido à casa de um compadre a fim de se divertir um pouco e ignorando a quaresma, tomar também umas cachaças.
Estavam reunidos com mais alguns companheiros e papo vai, causo vem, já era tarde da noite, quando o Chico alertou o pessoal, chamando-os para irem embora que já era tarde e também quaresma, e como todos estavam a cavalo demorariam um bocado para chegarem em casa.
Chico morava para o mesmo lado da casa do Seu Tião, e ambos iam juntos embora, porque Chico era medroso por natureza e Seu Tião como sempre dizia era muito “homi” de enfrentar qualquer coisa.
Iriam passar perto de um matagal que o povo da região tinha muito medo, pois diziam ser mal assombrado e que quem fosse entrar no mato ou mesmo passar numa porteira que tinha perto do mato e não pedisse permissão, seria surrado por alguma coisa que ninguém sabia o que era.
Quando foram se aproximando do matagal o Chico já começou a ficar com medo e começou a falar isso pro seu Tião que escarnecia do lugar e dizia que iria tomar o atalho da porteira e não iria pedir permissão coisa nenhuma e que se alguém não gostasse que viesse se acertar com ele, que ele iria dar uma sova.
Chico pedia pelo amor de Deus para seu Tião não brincar com essas coisas que isso não era coisa de brincadeira.
Seu Tião, porém um senhor na casa de seus 45 anos não ligava e já chegado à parte em que passavam pelo mato ele gritava, que iria passar pela porteira e que ninguém segurava.
Já passava da meia-noite e fazia calor.
Seu Tião disse para irem pelo atalho, e o Chico morrendo de medo, mas sem coragem de seguir sozinho preferiu arriscar, mas quando chegaram a porteira o Chico, pediu a quem quer que fosse se podia passar e conseguiu.
Mas Seu Tião com sua teimosia e falta de crença, não teve a mesma sorte.
Ele riu do Chico e continuou a dizer que agora iria passar sem pedir e queria ver o que aconteceria.
Mas quando avançou com o cavalo pela porteira, teve uma surpresa.
O cavalo que sempre fora de tanta confiança refugava, gemia e não passava de jeito nenhum, parece que alguma coisa estava parada na frente dele e assustava-o.
Seu Tião esporiava o cavalo, mas nada dele andar, apenas bufava e refugava.
Quase derrubou seu Tião, que já começava a ficar com medo.
O Chico a essa altura só olhava com os olhos arregalados e só conseguiu dar o conselho para o seu Tião pedir permissão.
Como já era tarde e o Seu Tião já estava descambando pro medo ele resolveu pedir a tal permissão.
Só assim ele conseguiu passar.
Mas quando já estava do outro lado da porteira ele teve outro arroubo de coragem e disse novamente que agora que ele tinha conseguido passar, o que aquele pedaço de mato poderia fazer.
Dizendo essas palavras alguma coisa montou na garupa do cavalo do Seu Tião que começou a arfar e mal conseguia andar.
Seu Tião então sentiu quando alguma coisa encostou-se em seu ombro, era algo como se fosse uma cabeça de um pássaro gigante.
Quando seu Tião ouviu um barulho atrás de si e olhou pro chão só viu as pés de alguma coisa, como se fosse uma ema gigante arrastando-se no chão.
O Chico que ia mais a frente olhou para trás e viu a dificuldade do cavalo de seu Tião em se locomover e perguntou o que era.
Seu Tião disse que deveria ser o capeta que tava montado na garupa do cavalo, e como a lua estava clara o Chico viu exatamente o momento em que alguma coisa invisível derrubou o seu Tião do cavalo e começou a bater nele.
Se Tião se contorcia no chão e o Chico sendo muito covarde riscou de espora o cavalo e saiu a galope.
Se Tião ainda apanhou por muito tempo e só foi encontrado depois muito machucado, já que o Chico pelo menos havia pedido ajuda para os peões da fazenda mais próxima e foram todos em busca do Seu Tião, que nunca mais abusou e também não passou mais a noite em frente ao capão assombrado.
E até hoje nesse mato dizem que alguma coisa bate muito em quem quer que entre lá e desavisado não peça permissão.
Esse mato existe mesmo e eu já passei por ele várias vezes de carro quando eu ia pra uma cidadezinha aqui perto chamada União de Minas, e meu pai sempre dizia para ficarmos calados e não fazermos bagunça quando passássemos pelo mato, que não é um caminho conhecido, pois liga as fazendas a essa cidadezinha, e só as pessoas que moram perto há muito tempo pegam essa estrada que é de terra até hoje.
E com todo o avanço das pastagens e da cana-de-açúcar aqui na região, por incrível que pareça o mato ainda continua lá, intacto do mesmo jeito há anos e anos.