Vida desgraçada (Parte 1 de não sei quantas)
Esse texto trata-se de um pequeno conto que vou dividir em partes. É diferente do que eu escrevo, mas de uma hora para outra, tive essa ideia e resolvi desenvolve-la. Devo dizer que essa história não tem um enredo definido. Eu vou criando o enredo enquanto a escrevo. Pode parecer loucura, mas escrevo melhor quando faço isso.
Vou dividir em algumas partes, e quem sabe num futuro não muito distante, depois de algumas mudanças, eu não a transforme em livro?
Boa leitura.
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I
O ano era de 1920. A desgraça começou ali. Ernesto era um homem comum e não chamava atenção alguma. Seu maior sonho? Não tinha. Trabalhava dia e noite, noite e dia. Começou o trabalho na roça com apenas 6 anos. Aos 15 tratava do pai, da mãe e dos três irmãos mais novos. Chegava cansado em casa e ia dormir. Não se alimentava, pois raramente havia alimento. Quando chegou aos 18 anos, Ernesto descobriu uma coisa: a mulher. Uma mocinha da fazenda onde moravam despertou sua atenção. Enquanto ele carpia, ela o observava. Então, ele carpia com ferocidade, só para se exibir. Ela era linda, pele negra, cabelos negros, olhos negros. Ele era magro, esquelético, cheirava suor e pouco sorria. Isso não o incomodava nenhum pouco. Ele gostava dela, e tinha certeza que ela sentia o mesmo. Mas só havia um problema. Um problema grandioso. Ela era filha do patrão, o dono da fazenda. Era rica, mocinha de família, bem cuidada, bem alimentada. E ele? Um roceiro fedido, pobre e faminto. Ele era honesto, isso valia. Valia, não? Claro que valia! Um dia ela veio ter com ele. Ernesto empertigou-se todo e corou gradativamente enquanto observava a mocinha vindo em sua direção. Quando ela o chamou pelo nome, Ernesto tremeu da cabeça aos pés. ‘’Eu te amo’’, disse sem pensar. Ela riu. Riu bastante. Depois riu mais um pouco. Ernesto observou aquele riso ardente e branco, e perguntou-se se ela estava o gozando. Quando ela parou de rir, disse, ‘’Acho que também te amo. Mas me diga uma coisa, como é que se sabe quando se está amando’’. Ernesto não sabia o que dizer. ‘’Eu... É... Bem... Sabe? Acho que... ’’, ‘’A gente fica sem palavras’’, completou a mocinha, que atendia pelo nome de Joaquina. Ele assentiu e depois de anos sorriu. Daquele dia para frente, enquanto ele carpia, ela vinha conversar com ele. Aos poucos Ernesto foi se desenrolando e se acostumando com a companhia de Joaquina. Ele percebeu que ela era inteligente, e mais tarde descobriu que tinha apenas 17 anos. Já ela, descobriu o contrário de Ernesto. Achava ele muito esperto para um simples roceiro, mas não deixava transparecer isso. Ela o amava. Amava em segredo. Tinha que se decidir. Depois de muito pensar, repensar, pensar novamente e repensar de novo, decidiu. Quando viu Ernesto carpindo mais uma vez, foi ter com ele de novo. ‘’Quero casar-me contigo’’, anunciou sem rodeios.