O BURRO E O MILITAR
O presente "Causo" foi baseado numa entrevista de Frei Betto à Revista Play Boy, cuja data não me lembro. Frei Betto com seu livro Introdução à Política Brasileira, na cadeira de O.S.P.B. (Organização Social e Política do Brasil ), foi para mim uma espécie de tábua de salvação. Eu lecionava essa matéria na 8.a série do ensino fundamental. A referida matéria deveria ser utilizada como ferramenta da ditadura, então vigente (anos 60, 70 e 80). Os livros aprovados e impostos pelo MEC, eram considerados por mim e por um grande número de professores, um catecismo da ditadura. Os conteúdos estavam repletos de ideologia ditatorial. E pior: preconceituosos. Nos meus encontros com minha Diretora (Edna Souto Mendes), manifestava o sonho de poder ter um livro que realmente educasse para a plena cidadania. E traçava o perfil do desejado livro didático. Até que um dia quando entrei em sua sala, de pronto ela disse: chegou o livro que você sonhava! E me entregou o livro que tinha como autor Frei Betto. Acho que a ditadura começava a esboçar os primeiros sinais de cansaço.
Frei Betto tinha uma rica formação universitária. Era formado inclusive em teologia. Era um dominicano com um vasto currículo de perseguição política. Sua vida universitária deu-se em Belo Horizonte, onde se passou o seguinte episódio: a cadeira de Fundamentos da Política Brasileira era ocupada por um militar, é claro. Era, no entanto, inteligente e de competência comprovada. Mas era militar. Isso era o suficiente pra despertar nos alunos, inclusive em Frei Betto, uma profunda oposição. Um dia seus alunos resolveram pregar-lhe uma peça. Faltariam coletivamente à sua aula, mas deixariam como representante um BURRO (na verdade um jegue). Como a sala de aula era no terceiro andar, imaginem o trabalho que nosso amigo asinino deu para galgar os seis lances de escada. A tarefa foi feita. Deixaram-no lá e se mandaram prum barzinho que tinha em frente à Universidade. Passaram as duas horas regulamentares sem nenhuma manifestação de júbilo ou de desagrado. A curiosidade começou a invadir as cabeças de nossos heróis. Deram um pequeno espaço de tempo e subiram pra ver o resultado da "arte". O quadro negro estava repleto de anotações e observações. Mas a mais importante escrita em destaque dizia: É PENA QUE VOCÊS NÃO COMPARECERAM. DEPOIS DE AMANHÃ TEREMOS PROVA DESTA MATÉRIA. QUAISQUER DÚVIDAS PERGUNTEM AO COLEGA DE VOCÊS QUE SE FEZ PRESENTE! (Oldack/16/04/010).