COISA DE CABOCLO...um profundo silecio caía sobre ...
Um profundo silencio caía sobre aquela fazenda numa noite sem lua e de céu estrelado. A conversa na varanda girava em torno das pessoas que há muito partiram para outros lugares em busca de seu destino e facilidades que a região não lhes oferecia. Eu fui uma daquelas e também fiz o mesmo junto a outros jovens.
Seu João Figueiredo e dona Helena, sua esposa, todas as noites chuleavam suas prosas até altas horas e muito se orgulhavam por serem proprietários da fazenda Boa Vista- um vale fecundo e belo, de terras boas. Nessas prosas sempre se ouviam lamentos sobre os muitos sobrinhos que partiram pra São Paul, jamais retornando. As vezes ficavam tempo sem noticias. Coincidência ou não, alguém gritou “boa noite!” na porteira de entrada- estava a pé.
-Chega pra cá!, Disse seu João, tentando reconhecer aquela voz.
- Sou eu, o Nando, seu sobrinho...Epaminondas, filho do Zé Cabral...Da Conceição...num lembra mais não?!
-Não acredito, é você, cachorrão? A essas zora, meu fio?
Os sorrisos brilharam naqueles rostos inundados de saudade e lamentos de poucos minutos antes. Estavam todos felizes, mas ninguém perguntou se Epaminondas já havia jantado.
Ainda solteiro e desprendido, Epaminondas sempre foi de bom falar e assim aqula prosa se esticou até alta madrugada, quando seu João entendeu que já era hora de dormir, virando-se para Dona Helena, ordenou: “Helena, arrume a cama pro Nando e esquenta água pra ele lavar os pés. ( no interior de Minas, nós sertanejos tínhamos o hábito de ao invés de tomar banho (falta de chuveiro ?), simplesmente lavávamos os pés e o pescoço e pronto, passando uma aguinha de cheiro atrás da orelha. Isso à noite, antes de nos deitarmos.
Numa grande bacia de folha de flandres estava a água quentinha, o sabão e ao lado a branca toalha de algodão.
-Tia Helena! Tia Helena!
- Qui foi, Nando?
- Titia, lavar os pés sem jantar não dá congestão não?!