O MILAGRE DA MEDALHINHA DE OURO (ULTIMA PARTE)

Inseguro com a decisão tomada pelo silvícola, Artur imaginando na demora da caçada, e a preocupação que acarretaria na empresa onde trabalhava, o questionou através de seu intérprete cogitando a possibilidade dele abrir mão do ritual que já estava sendo preparado. – Tupã curô home branco mim deve ritual! A resposta o deixou apavorado. Imaginando-se reféns. Mas Claudio os tranqüilizou, pediu calma e avisou que talvez todos tivessem que fumar no cachimbo da paz, preparado para ocasiões especiais e se isto os ocorresse passariam varias hora em um trance hipnótico.

Assim que o sol mergulhou no horizonte,os selvagens começaram uma grande movimentação, pintando a caráter, e preparando uma enorme fogueira numa vala na praça da maloca. Quando a noite caiu surgiram os guerreiros trazendo três javalis caçados. As mulheres da tribo os prepararam numa habilidade incrível. Sem retirar a pele, limpando suas vísceras e intestinos e os recheando com ervas aromatizante, uma espécie de tempero. Cada animal foi atravessado por uma estaca entrando pela boca saindo entre as patas traseiras colocados em forquilhas formando uma espécie de sarilhos que eram rolados de tempo sobre a vala incandescente da fogueira. Na medida em que os animais eram tostados pelo fogo uma fumaça branca subia em riste, e o cheiro de pelo queimado espalhava pela aldeia. Os tambores rufavam e toda a aldeia dançava e cantava no derredor da fogueira, adentrando noite afora. Quando restou apenas o braseiro, cessaram-se os tambores, estava encerrado o ritual de dança. Numerosas cabaças de água foram despejadas no borralho sobrando apenas o carvão e o cheiro de carne assada espalhava em toda a aldeia. -- Podem rezar companheiros para que ele nos poupe do cachimbo do contrário estaremos hipnotizados por algumas horas.

Os três visitantes e Claudio foram posicionados de mãos dadas e em forma de círculo, enquanto o Page e os guerreiros que abateram os animais fumavam passando o cachimbo de mão e lhes atirando fumaça em seus rostos. Terminado o ritual do cachimbo, Claudio foi autorizado a cortar uma fatia de cada animal e entregar aos três companheiros, em seguida o Page cortou três porções menores uma em cada animal entregando-as a Claudio e juntos todos comeram. Na seqüência toda a tribo foi autorizada a comer. –Através do interprete Artur agradeceu elogiando, o sabor da carne e a hospitalidade do índio o deixando cheio de entusiasmo. Lisonjeado o silvícola tentou retribuir com seu escasso português: -- mim livra home branco pode subi! -- Ele está dizendo que podemos ir, estamos liberados!—Diga a ele que temos que esperar, só podendo partir pela manhã. – Home branco fica dorme rede!- Foram providenciadas as redes ao lado de Claudio. Louvando a Deus por serem poupados do cachimbo, eles passaram o resto da noite descansando embora sem conseguir pregar os olhos.

Tudo acertado chegou à hora da partida, o Page reuniu toda a tribo no entorno de Claudio, e contou detalhadamente a trágica historia que ocasionou sua estadia na aldeia. Um por um os silvícolas digiram a ele molhando a ponta do dedo indicador na língua, o tocava em sua boca. O interprete explicou: --Esta é a forma mais carinhosa de despedida só os amigos verdadeiros têm o privilégio e podem receber este carinho. Quando o helicóptero alçou vou o Page permaneceu acenando, o restante da tribo estava toda recolhida no interior da maloca, era o sinal de pesar pela partida do amigo que durante três meses recebeu os cuidados da tribo sendo consagrado como seu grande amigo.

Durante o trajeto da viajem Claudio, narrou aos amigos, minuciosamente sua grande e inesperada aventura. Chegando ao destino pelo celular, Artur pediu permissão para pousar no pátio da indústria de Jorge. Imediatamente todos os veículos que ocupavam o pátio foram recuados para as laterais. O pouso foi realizado com sucesso. Logo inúmeros curiosos adentraram o pátio invadindo o espaço, atraídos pela sena do pouso, até então um espetáculo poucas vezes ocorrido na cidade.

Os ocupantes do aparelho desceram Claudio à frente, com aparência de guerrilheiro, trajando uma roupa cedida por Artur, como o manequim não condizia com o seu numero, ela não lhe caiu bem, fator este que somado a sua perda de peso cabelo e barba crescida, à distância nem o pai não o reconheceu.

-- Bom dia, Como vai seu Jorge tudo bem-, e dona Amália como está? – Com uma vontade louca de ti abraçar seu moleque travesso! O que tu fez pra escapar daquele maldito rio? Imaginou que eu não ia reconhecê-lo? -- Como escapei mais tarde saberás! Pensei que não me reconheceria velho? – De fato parece mais com um bicho do que aquele belo homem que mergulhou na imensidão de águas sujas daquele mar lamacento, mas sua voz não me saiu da memória ao se despedir naquele fatídico dia!—Quem são estes amigos que o trouxeram? –São os anjos que Deus me enviou no meio da floresta e me resgataram, este é Artur um bioquímico ex-colega de faculdade e seus dois assistentes, que a trabalho por ironia do acaso através de um inédito milagre me encontraram numa aldeia indígena! – No meio dos índios como?—vamos deixar esta história, de lado mais tarde na presença de dona Amália eu contarei detalhadamente combinado? – Perfeitamente, agora o importante é reunirmos nossa família e comemorarmos, só que antes preciso de um tempo quero ter a certeza que não estou sonhando.

Naquele momento o telefone tocou Jorge o atendeu:- - Alô, Amália querida é você, o que está dizendo, encontraram nosso filho? Ouviu no noticiário? Esta imprensa antes que os fatos acontecem já estão anunciando, acalme-se minha querida é verdade, mas fique nos esperando só o tempo de reunir nossos filhos estarei indo, eu sei lembro, você disse muitas vezes, ele está vivo, eu nunca disse que estava louca, bem vamos desligar, os meninos já chegaram, daqui a quinze minutos estaremos em casa, ele está bem sim, só um pouco abatido; thiau.

Vindos de outros setores da fabrica chegaram ao mesmo tempo os quatro irmãos: -- e ai mano como está-, chegando da selva virou guerrilheiro?—Quem sabe pelo menos sobrevivente de diversas batalhas eu sou. – Brincadeiras, mano, seja bem vindo chegaste à boa hora amanhã é o dia das mães já imaginou como vai estar o coração de dona Amália? Conta pra gente como foi que conseguiu sair daquele carro?—Eu não saí, fui arrebatado pela fé de dona Amália, todo este milagre que ocorreu em serie devemos a ela reconheço. Mas vamos pra casa, contarei mais detalhes numa coletiva familiar. Agora eu preciso recompor minha aparência e reencontrar comigo mesmo parece-me que estou fora da minha realidade, estou faminto e o tempero de dona Amália será a melhor solução.

Assim que a aeronave atingiu a área de cobertura telefônica o bioquímico Artur havia comunicado ao seu chefe o motivo que o levou a atrasar, mudando a rota programada, fator que levou a imprensa a anunciar o encontro de Claudio na floresta, uma vez que a mesma fonte vinha noticiando o possível desaparecimento do helicóptero devido ao seu atraso ocasionado pelo ritual indígena. O que levou dona Amália a tomar conhecimento do aparecimento do filho através do noticiário, vindo a telefonar imediatamente ao marido.

Entraram todos num microônibus da empresa e seguiram para residência da família de Claudio. Chegando á mansão, o portão eletrônico foi acionado, Amália aguardava na área externa da casa andando de um lado a outro acariciando as flores de seu jardim. Claudio desceu do carro e correu ao seu encontro, ao se abraçarem, a emoção cortou as palavras, as lagrimas rolaram e por alguns segundos ouvia-se apenas a respiração de ambos, o encontro emocionou o grupo inteiro, um abraço duradouro. Acariciando os cabelos e a barba do filho com os olhos marejando ela conseguiu dizer: --filho você está lindo, trajando desta forma como conseguiu sobreviver? –Obrigado mamãe, mas a senhora me olhou apenas com o coração, estou mais parecido com um bicho do mato, depois de tanto tempo enfiado numa aldeia indígena! – Antes de tudo vá tomar um banho e colocar uma roupa adequada, mas olha não faça a barba você está lindo com a barba Crescida! – Pronto primeiro me olhou com o coração agora com os olhos da alma, a senhora não existe dona Amália! Mas farei tudo para lhe agradar e só vou me barbear quando autorizar!

Na sala de jantar um banquete improvisado estava à espera, preparado com todo capricho, pelo melhor restaurante da cidade conforme Amália recomendou. Após a refeição, passaram para a sala de visitas. Sergio o irmão mais velho perguntou:- - e ai mano pronto para a coletiva familiar conforme prometeu? – perfeitamente mano, mas primero me diga com encontraram meu carro?—Seu carro estava flutuando no rio sobre uma grande arvore seca que descia levado pela cheia, e o curioso é que estava entalado por uma galhada que penetrou pelo pára brisa traseiro saindo pelo dianteiro uma coisa incrível difícil até de explicar.

—Eu só me lembro que chovia demasiadamente eu diminui a marcha quando a chuva deu uma pequena trégua imprime maior velocidade após alguns minutos notei que o carro rodopiava girando, senti um impacto violento quando dei por mim estava no meio do rio preso ao tronco de madeira, engoli uma porção de água suja com um gosto horrível, ora por baixo desta tora de madeira ora por cima, tentei me livrar dela, mas logo notei que a correntinha de meu relógio estava presa enroscada numa de suas pontas e a medalhinha deu um nó, eu não consegui soltá-la de forma nenhuma. Com apenas uma das mãos disponível a outra me mantinha grudada à tora. A única opção foi deitar de perfil sobre ela e deixar a água me levar, quando caiu à noite a chuva aumentou eu não conseguia ver nada, valeu-me que a temperatura manteve num grau tolerável. Aguardei a morte o tempo inteiro descendo na escuridão da noite. O dia amanheceu A chuva cessou, minha fraqueza era tamanha que minhas forças mal davam para eu me equilibrar, quando o desespero abatia-me eu entregava alma a Deus, sentia que alguma coisa estranha me empurrava para cima mantendo meu rosto livre da água, perdi a noção, do tempo, já não sabia se era dia ou era noite, via apenas uma cortina de fumaça amarela diante de meus olhos. Não sei quantos dias nem noites eu fui mantido por este estranho fenômeno que me segurou a vida. Até que perdi o sentido completamente. Quando dei por mim estava eu cercado por um pelotão de índios pintados e o ensurdecedor batido de tambores, eles entoando musicas incompreensíveis e me atirando uma fumaceira enorme no rosto com um cheiro insuportável de ervas queimadas. Doía-me das unhas dos pés às pontas dos cabelos.

Lembro-me que taparam meu nariz e despejaram uma bebida amarga em minha boca. Quando eu despertava, eles repetiam o mesmo procedimento, não tenho a menor idéia o quanto durou este tratamento. Sei que as primeiras palavras que ouvi foi o Page me dizendo: home branco durmiu muntas luas, agora come carne. Aos poucos fui recebendo uma espécie de sopa de erva com carne peixe talvez até cobra eu tenha comido, mas valeu apena tiveram um cuidado enorme comigo nesse nos últimos dias às crianças já entendiam bastante minha linguagem. E as passavam ao Page que sabe pouco ou quase nada de nossa língua. Através das crianças eu soube que o que mais prejudicou foi o ataque dos mosquitos que me contaminou com a malária.

Foram verdadeiros anjos em minha recuperação, o Page pescava quando deparou comigo descendo rio abaixo, um verdadeiro milagre. A tora de madeira ele a matem como um troféu. Mim guardá pau qui num afunda mim oferecê tupã! Home branco durmi muntas luas tupã curô home branco! O restante da história e último milagre todos já sabem ou quase todos, eu metido no meio da floresta sem a mínima possibilidade de me comunicar com o mundo de repente eu acordo com três homens de pé junto a meu leito. Sair de lá só mesmo de helicóptero, por que a pé jamais. Mas daqui a três meses quando Artur retornar em missão de trabalho irirei com ele, já combinamos, quero lavar uma boa recompensa, àquela gente maravilhosa. São eles os anjos da natureza que Deus colocou no meu caminho! – Pode fretar um ou mais helicópteros, meu filho você não irá sozinho, queremos conhecer esta tribo, vamos juntos você seus irmãos sua mãe e eu, lavaremos alem de muitos presentes a nossa gratidão aos anjos da natureza. E daremos uma grande para suas crianças.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 05/11/2012
Reeditado em 17/08/2020
Código do texto: T3969508
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