O PESQUEIRO ASSOMBRADO

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Eu sou inté capaz de jurar que durante muitos anos de minha meninice, acreditei na existência do saci. Não que o tenha visto, mas meu falecido avô falava sobre ele de uma maneira tão convincente que não tinha como não acreditar.

Contava meu avô que, certa noite, estava a pescar no rio que passa perto da sede da fazenda, quando ouviu que, do outro lado da banda do rio, chamavam o seu nome: “Seu José... Seu José.” Dizia meu avô que era igualzinha voz de gente. Então ele embarcou na canoa e atravessou o rio. Eram 23 horas de uma noite clara como água. Quando ele chegou à outra margem não viu nenhuma alma. Chamou, assobiou, esperou e cansado, beirando aí a meia-noite, voltou.

No que deixava a margem, a canoa embicou com coisa que uma gente houvesse pulado na garupa. Também sentiu, assim como uma espécie de arrocho por debaixo dos braços como se alguém o abraçasse pelas costas. Era um abraço frio, esquisito. Ele levou a mão na garupa, mas não deparou ninguém. Bateu os remos com força, assoprando, suando, e, foi assim, com o maior esforço que conseguiu aportar na margem que pescava. Aí ele sentiu que quem vinha na garupa dela saltou e desapareceu, fungando, pulando no seu único pé – quem? O Saci, que lhe havia pregado uma peça. Não podendo esse capeta atravessar a água porque Deus disso o proibiu, valeu-se da canoa e da boa vontade de meu avô para atravessar o rio e, do lado de cá, ir judiar das criações que tínhamos na sede.

Quando meu avô chegou à sede da fazenda estava mais branco que a cal da parede, não podia dizer palavra. Ele não tinha medo de onça, de cobra, mas de alma, de coisa-ruim, se pelava de medo. Só no dia seguinte que ele nos contou o que eu lhe contei. Fizemos um terço e benzemo o pesqueiro. Mas quem é que se atreveu ir pescar lá de noite? Mais ninguém, nem os pantaneiros mais atrevidos.

Agora, quem quiser que acredite. Mas que esse causo é verdade, isso lá é verdade. Pela luz que me alumeia. Naquela época havia saci, meu patrão! ®Sérgio.

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Nota: Em muitas passagens deste conto, uso grafia própria do sertanejo, divergente em muitos pontos da ortografia oficial.

Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 30/10/2012
Reeditado em 17/01/2013
Código do texto: T3960769
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